Vozes do Museu Nacional acaba de lançar Canal de Acolhimento

Apresentado em Congregação, o Grupo de Trabalho Vozes do Museu Nacional/UFRJ foi criado recentemente. Em resumo, o foco é buscar a melhoria do ambiente de trabalho, qualidade de vida e bem-estar do corpo social, com a promoção de um ambiente de trabalho seguro, respeitoso, diverso e igualitário. Uma das primeiras iniciativas é a criação do Canal de Acolhimento para receber relatos, primando pelo sigilo e a garantia da segurança das vítimas.

Parte das pessoas que integram atualmente o Vozes. Foto: Diogo Vasconcellos (MN/UFRJ)

Conheça nesta matéria detalhes sobre o funcionamento do Grupo de Trabalho (GT), além de depoimentos das pessoas que o integram atualmente. Aproveite e veja como fazer parte do Vozes! Ele é aberto a pessoas do corpo social de todos os gêneros e de identidades não-binárias. Basta concordar com o Código de Ética e ter uma frequência de pelo menos 75% nas reuniões.

Neste momento, o grupo está buscando inspirações em diferentes iniciativas para avaliarem as melhores práticas e adaptá-las ao contexto da nossa instituição. É importante ressaltar que o grupo de trabalho é um coletivo consultivo e mediador e, portanto, não configura órgão com instância executiva. A gestão é feita de forma horizontal, de modo que todas as decisões são tomadas em conjunto e considerando a opinião de todas as pessoas que integram o grupo.

Conte com o Canal de Acolhimento

O GT Vozes possui o Canal de Acolhimento, aberto para o recebimento de relatos de situações de violência e/ou discriminação vividos por pessoas do corpo social do Museu Nacional no âmbito da instituição. Para manter sigilo e garantir sempre a segurança e o bem-estar das vítimas, o e-mail e os dados do Canal de Acolhimento são acessados somente por uma dupla de servidores, composta por uma pessoa docente e uma técnica.

Respostas a relatos recebidos são enviadas por meio do e-mail do Canal de Acolhimento, convidando a pessoa que enviou o relato a uma conversa, preferencialmente presencial e com a presença de pelo menos duas pessoas que integram o GT. Também na resposta, são encaminhados contatos de canais de denúncia pertinentes à situação relatada. Destaca-se também que nem todos integrantes do Vozes recebem relatos, a fim de respeitar os temas sensíveis às pessoas do GT. Adicionalmente, é seguido o Código de Ética e Conduta, que proíbe o acolhimento por pessoas do grupo de trabalho que possam apresentar conflito de interesses com o caso relatado. Assim, na primeira resposta é apresentada a lista das pessoas do GT disponíveis para a conversa, para que a pessoa que fez o relato possa escolher falar com quem se sentir mais à vontade. O encontro com pelo menos dois membros do GT visa acolher e pensar nos encaminhamentos possíveis, sempre respeitando o desejo do relatante.

Se você desejar contar com o Canal de Acolhimento do Grupo de Trabalho Vozes do Museu Nacional/UFRJ, envie seu relato preferencialmente por e-mail, para: acolhimentovozesmn@gmail.com. A ideia é acolher servidores docentes e técnicos, estudantes e trabalhadores terceirizados que vivenciem ou tenham vivenciado situações de violência e/ou discriminação.

Quais são os objetivos do Grupo de Trabalho Vozes do Museu Nacional/UFRJ?

Ele tem três objetivos principais:

  • O primeiro é a melhoria do ambiente de trabalho, qualidade de vida e bem-estar da comunidade do MN/UFRJ.
  • O segundo é o desenvolvimento de atividades que visam acolher, informar e orientar o corpo social do Museu em casos de assédio moral, sexual, violências diversas ou qualquer forma de discriminação que envolva raça, religião, etnia, identidade de gênero, orientação sexual, pessoas com deficiência (PCD), neurodiversidades, parentalidade, entre outras.
  • E o terceiro é o desenvolvimento de pesquisas e relatórios sobre os temas emergenciais, listados acima, que auxiliem na criação de políticas públicas ou internas tanto para o Museu quanto para os programas de pós-graduação da UFRJ.
Motivações para fazer parte

Conheça os depoimentos das pessoas que integram atualmente o GT Vozes do Museu Nacional/UFRJ e motive-se para buscar essas melhorias também!

Pessoas que também participam do GT Vozes do Museu Nacional/UFRJ

Ana Luiza Quijada, Técnica de coleções do Departamento de Entomologia

“Decidi participar pois acho importante esse espaço de acolhimento. Muitas vezes as vítimas de assédio ficam perdidas, sem saber a quem recorrer. Hoje, é inadmissível, em um espaço de educação e saber, ocorrerem casos em que pessoas usam de sua posição hierárquica para inferiorizar e destratar alguém”.

 

Fernanda Dias da Silva, doutoranda do Setor Herpetologia do Departamento Vertebrados

“Acho importante trabalhar esses assuntos emergenciais dentro das universidades, pois só atuando dessa forma é que conseguiremos que políticas públicas e internas sejam realizadas e medidas mitigatórias possam ser criadas e eficientes. Espero que as nossas ações possam melhorar o ambiente de trabalho tornando a comunidade do Museu Nacional/UFRJ diversa e inclusiva. É inadmissível que ainda existam assédios morais dentro da comunidade do Museu e que não existam informações de fácil acesso às vítimas sobre o que fazer nesses casos. Precisamos trabalhar com a divulgação de informações para informar e acolher a comunidade do Museu Nacional”.

 

Gabriela Abrantes Jardim, gerente de Coleções do Departamento de Entomologia

“Entrei para o GT porque achei uma iniciativa importantíssima. Eu tenho muito orgulho de trabalhar no Museu Nacional, um espaço tão rico em história e que presta um serviço tão valioso para a sociedade. Acho inconcebível que esse mesmo lugar que me enche de orgulho e que desperta memórias cheias de afeto para a população seja uma fonte de sofrimento e adoecimento para pessoas que estudam e trabalham aqui, as pessoas que fazem o Museu. Acredito que ter um grupo que acolha e oriente essas pessoas, e, ao mesmo tempo, promova atividades educativas para todo o corpo social seja fundamental para mudarmos esse cenário. Espero que, em um futuro não muito distante, todos – independente de gênero, cor, cargo ou vínculo com o Museu Nacional – sejam tratados com educação e respeito às suas individualidades”.

 

Luciana Witovisk, docente do Departamento de Botânica

“No Museu Nacional, assim como na UFRJ e, provavelmente, em todas as universidades federais, ocorrem comportamentos inaceitáveis, muitos mascarados pelo “viés competitivo” do meio acadêmico. E isso é um absurdo. O que esta visão esconde é o machismo, o racismo e o elitismo estruturais que ainda dão o tom em alguns ambientes que, no passado, eram tomados por homens brancos. Eu participo do Vozes por 2 motivos: sou a 1ª docente do MN a mudar de departamento, por não tolerar mais comportamentos tóxicos e saber que sozinha não mudaria nada. Então, voei, e foi a melhor decisão da vida. Além disso, coordeno o Projeto Meninas com Ciência. Ora, não posso querer atrair meninas para a Ciência sabendo como é o ambiente, sem fazer nada. É uma questão de honestidade. O sistema vai mudar e será por dentro, porque iniciativas como o Vozes estão se proliferando nas universidades federais, com o amparo institucional de Ouvidorias e CGU, que criou o Guia Lilás, por exemplo. Só assim teremos Democracia de fato em ambientes universitários”.

 

Manoela Woitovicz Cardoso, técnica do Setor de Herpetologia do Departamento de Vertebrados

“Desde pequena lembro de meu desconforto com falas misóginas. Assim, o desejo de lutar contra violências de gênero surgiu naturalmente. Porém, há tantas formas outras de violências que eu desconhecia… Tive o privilégio de aprender com pessoas incríveis sobre essas e outras dores e injustiças que podem ir nos desanimando de seguir. Aprendi que, se dói no outro, não é piada. E que, se compartilhamos tantas dores, podemos nos unir e compartilhar também a busca por soluções. Decidi participar do GT Vozes buscando contribuir para a construção de um ambiente de trabalho mais amigável. Amo o Museu Nacional, no entanto, sei que há pessoas sofrendo diferentes formas de discriminação. Gostaria que soubessem que não precisam aceitar violências e tampouco passar por isso sozinhas. Acredito no poder do diálogo e em nossa capacidade de aprender, buscando respeitar as diferenças e exercendo a empatia, para que possamos construir um Museu Nacional mais diverso e mais inclusivo, seguro para todes”.

 

Marcela Lemos Motta, Museóloga do Setor de Museologia (SEMU)

“Acredito que toda instituição deveria ter um lugar seguro de acolhida a pessoas que sofrem ou sofreram violência. O Vozes não apenas é este local, mas também se propõe a procurar formas de conscientizar e prevenir que episódios de violência ocorram. Sou uma mulher preta e passei por diversos episódios de violência em minha vida e sei quanta falta faz ter uma rede de acolhimento num momento difícil, ter um lugar seguro para falar e ser ouvida e amparada. Decidi participar do Vozes, pois quero contribuir para a criação de ambientes de trabalho saudáveis, nos quais as pessoas se sintam felizes e se respeitem. Nós dedicamos ao trabalho pelo menos um terço de nossos dias. Sermos felizes enquanto trabalhamos é importante para a saúde mental e física, para o bem-estar dos que nos rodeiam e para a promoção do bem-estar social”.

 

Mariane Targino, gerente de Coleções Zoológicas da Direção de Coleções

“Tive interesse em participar do grupo pelo meu próprio histórico dentro da instituição. Passei meus anos iniciais sofrendo com atitudes que me desrespeitavam, em um local onde não me sentia valorizada, até que fui aos poucos entendendo sobre assédio moral. Vi minha saúde física e mental comprometida até que busquei ajuda pra sair daquela situação. Encontrei pessoas dispostas a me ajudar e, com isso, hoje em dia me encontro em um novo local e feliz com meu trabalho. Acredito que o Museu é um local amplo que abarca muitas possibilidades e que precisa de pessoas motivadas e felizes. Acredito que haja um lugar para cada um e que não é aceitável sofrer por atitudes de outras pessoas. É necessário que as pessoas saibam seus direitos e tenham a quem recorrer para ajudá-las. Os caminhos não são muito claros e espero poder ajudar da mesma forma que recebi ajuda”.

 

Marina Morim Gomes, Técnica de Coleções Zoológicas do Departamento de Entomologia

“Como mulher, é frustrante ver tanto o patriarcado como as outras formas de opressão se modernizando e se mantendo na sociedade, especialmente dentro dos espaços de trabalho. Eu sinto que preciso fazer algo para mudar essa realidade, nem que seja contribuindo um pouquinho, e não consigo ficar parada vendo situações de injustiça acontecerem. Além disso, acredito muito em projetos construídos coletivamente e me sinto especialmente à vontade nos espaços do Vozes por isso. O que é inadmissível pra mim é as pessoas praticarem violências e não sofrerem nenhum tipo de consequência negativa porque isso perpetua não só a prática desta pessoa como de outras que entendem que podem praticar aquilo e exercer poder dentro de um espaço que supostamente era pra ser crítico sobre isso. Espero que, no futuro, o Museu tenha espaços para que esses assuntos sejam discutidos e levados a sério e vire um espaço onde as pessoas se sintam seguras de frequentar”.

 

Thamara Zacca, docente do Laboratório de Pesquisas em Lepidoptera do Departamento de Entomologia

“Durante a pós-graduação, passei por diversas situações negativas dentro do ambiente acadêmico pelo fato de ser mulher, nordestina ou ter cabelos crespos. Em muitos momentos, pensei em desistir da carreira acadêmica porque não me sentia pertencente àquele lugar. Agora, na condição de professora, não pensei duas vezes ao receber o convite para participar do GT Vozes do Museu Nacional porque eu sei o quanto a ausência desses espaços de acolhimento dentro das universidades pode afetar negativamente a vida de uma pessoa, a qual pode chegar até a desistir de um sonho por se sentir em um ambiente hostil ou ter a sensação de não-pertencimento. Mesmo com as tantas outras demandas de trabalho, eu tenho uma grande satisfação em fazer parte desse grupo, o qual valorizo e realmente acredito em seu potencial transformador”.

 

Tyelli Ramos, doutoranda do Setor de Herpetologia do Departamento de Vertebrados

“Meu interesse em participar do GT ocorreu após ter entrado em contato com muitos relatos de assédio, ocorridos em diferentes setores do Museu Nacional, o que me acendeu o alerta para a importância de tratarmos publicamente do assunto na instituição como um todo. Acho inadmissível a “institucionalização do assédio”, onde pessoas que cometem abusos são “perdoadas” porque “sempre agiram dessa forma”. Não podemos continuar normalizando situações que deixam as pessoas desconfortáveis e doentes em seu ambiente de trabalho. Para o futuro próximo, espero que o Museu se torne um ambiente mais acolhedor e mais aberto para discutirmos questões e comportamentos/atitudes de assédio”.

 

Contatos importantes do GT Vozes do Museu Nacional/UFRJ:
  • O e-mail para contato geral do GT Vozes do Museu Nacional/UFRJ é o: vozesdomuseu@mn.ufrj.br, sendo aberto por todos os integrantes do GT. É voltado somente para solicitação de reuniões de apresentação, sugestão de atividades ou informações sobre participação, por exemplo.
  • Quer fazer parte? Os interessados em integrar o GT podem se inscrever pelo link que está disponível no Instagram @vozesdomn. Aproveite e siga para acompanhar as novidades.
  • O Canal de Acolhimento GT Vozes do Museu Nacional/UFRJ é exclusivo para receber relatos de vítimas. Ele é aberto por uma dupla de servidores, garantindo a segurança dos dados. Conte com esse apoio: acolhimentovozesmn@gmail.com.

 

 

 

 

 

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