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Ariel e seus olhares para as ‘janelas’ do tempo

Ariel no Laboratório de Paleoecologia Vegetal. Foto: Diogo Vasconcellos (MN/UFRJ)

Minha relação com o Museu Nacional começou muito antes de eu colocar meus pés aqui. Nasci em Belém do Pará e cheguei com o sabor das memórias que eu ouvia da minha mãe e já com a semente dessa paixão que ela cultivava com tanto carinho. Senti o mesmo no convívio com meus professores e colegas. Pouco a pouco, isso também ficou mais forte em mim, porque é realmente incrível perceber que eu também faço parte dessa importante instituição nacional, com tanto significado para a ciência, a cultura e a história do nosso país e do mundo. É especial ser a segunda geração das mulheres da minha família no PPGeo, o Programa de Pós-Graduação em Geociências. A minha mãe fez parte da primeira turma e agora estou trilhando minha história nas Geociências.

O momento da colisão do asteroide na Terra

O tema da minha pesquisa é bem incomum e fascinante. Resumidamente, ela faz parte do projeto Florantar (PROANTAR/CNPq), que busca conhecer e estudar a flora fóssil da Península Antártica. Minha rotina é ficar pesquisando com os olhos voltados para inúmeras cutículas de plantas, na casa de micrômetros. Quando contei para meus colegas de laboratório que me deparei com umas que tinham na casa dos mil micrômetros de área, eles até brincaram: “Nossa, Ariel, que cutículas enormes!”. Por aqui, a gente trabalha muito, mas se diverte também. O foco da minha pesquisa é no registro de cutículas de plantas dispersas no chamado Limite K/Pg ou Cretáceo/Paleógeno, bem no momento da extinção dos dinossauros, quando aquele asteroide colidiu com a Terra. O que buscamos descobrir é como essas cutículas se comportaram antes e depois desse impacto gigante, se houve mudança taxonômica no registro, possível de ser identificada e se há diferenças que possam ser quantificáveis. Estou fazendo uma comparação de material de duas áreas: a Patagônia Chilena e a Ilha Seymour, Antártica.

É um estudo que levanta a curiosidade de muitos. É uma “janela” no tempo, né? Todos querem saber como foi aquele momento. Eu trabalho com material já coletado e, volta e meia, fico pensando como seria ir lá fazer as coletas no campo, tendo essa experiência completa de cientista. Quem sabe um dia terei essa oportunidade?!

Museu além do espaço físico

O Laboratório de Paleoecologia Vegetal (LAPAV) do Museu Nacional está funcionando no Serviço Geológico do Brasil (CPRM), na Urca. Poucos sabem que estamos aqui. Você já sabia? Foi uma oportunidade que surgiu quando a doutora Norma, da CPRM, se aposentou e o professor Marcelo Carvalho conseguiu esse espaço. Quando ingressei no mestrado, já vim direto para cá. Tenho algumas aulas no Horto Botânico do Museu, que é quando tenho essa convivência também com mais pessoas de outros departamentos e setores.

E foi muito interessante mergulhar na história e no dia a dia do Museu quando eu tive duas disciplinas com a professora Luciana Carvalho, que nos transmitiu tudo de uma forma tão apaixonada. Ela dividiu com a gente tantos detalhes interessantes sobre a história do nosso Museu, que acabou sendo uma forma de me aproximar ainda mais de todo esse legado e, inevitavelmente, me apaixonei ainda mais. Também foi maravilhoso ter a oportunidade de ouvir dessa cientista tão importante, que foi uma das líderes desse momento único da história, como foi o trabalho de Resgate de Acervos no Paço de São Cristóvão. Além disso, foi uma oportunidade de estar em contato com o material resgatado e perceber de perto os desafios do processo de curadoria.

Pesquisadores do LAPAV: Michelle, Ariel, professor Marcelo, Nathália, Gustavo e Eduarda. Foto: Diogo Vasconcellos (MN/UFRJ)
Bases na vida

Meus pais sempre me levavam na infância ao Museu Paraense Emílio Goeldi, e coincidência ou não, minha mãe teve sua primeira experiência científica no mesmo museu. As lembranças daquele cheiro tão característico de museu de história natural sempre ficaram muito presentes em mim. Na graduação em Engenharia Florestal, o museu foi o lugar onde escolhi também viver a iniciação científica como bolsista CNPq. Sinto que os meus pais amam tanto o que fazem que acabam me inspirando muito. Meu pai é músico, clarinetista, e minha mãe desde criança já dizia que seria cientista. Atualmente, ela está no doutorado e também estudou música. Trago esses dois mundos em mim. Inevitavelmente, no laboratório, no dia a dia, eu ouço muita música para relaxar, enquanto estou com os olhos voltados para as inúmeras cutículas no microscópio.

Tinha que ser aqui

É curioso, mas, quando enviei um e-mail para o professor Marcelo Carvalho, perguntando sobre pesquisas de mestrado, ele me respondeu em meia hora e já começamos a conversar. Isso foi em 2021, bem no alto da pandemia. Eu tinha acabado minha graduação em Engenharia Florestal e ficava enviando mensagens para professores especialmente de São Paulo, que era onde eu estava morando com a minha família desde o início de 2020. Imagina como foi estar formada, em novo estado, e sem oportunidades por conta da pandemia de Covid-19? Não foi nada fácil. Outros professores me responderam após três, quatro meses, que não tinham oportunidades naquele momento devido a pandemia. E tive a sorte de ter esse contato com o professor Marcelo, meu orientador, com rápida resposta positiva e material para ser trabalhado.

Após o ingresso no mestrado, então comentei com o professor Marcelo sobre minha mãe ter sido da primeira turma e aliás, fiz também uma surpresa pra minha mãe, contando da minha aprovação no PPGeo do Museu Nacional. 

Estou trilhando minha história nas geociências do Museu com essa pesquisa, e tem sido muito bom estar aqui porque a troca de conhecimentos e, em especial, a convivência com as pessoas são indescritíveis!

Neste momento, estou bem focada no agora, em concluir o mestrado e defender essa pesquisa desafiadora e fascinante.

Enfim, fico por aqui.

Tchau, tchau, gente!

Ariel Barroso Monteiro

Mestranda do PPGEo e pesquisadora do Laboratório de Paleoecologia Vegetal do Museu Nacional/UFRJ.

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