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Templo de Esna: festividades podem revelar dinâmicas de poder

Conhecido pela beleza única de sua Sala Hipostila com colunas altas e capitéis ricamente decorados, o Templo de Esna é objeto de estudo da egiptóloga Tamires Machado, doutoranda do Museu Nacional/UFRJ. Em 2023, ela realizou um minucioso trabalho nesse sítio arqueológico para sua tese de doutorado, que tem como tema “As Agências dos Festivais do Templo de Esna’”.

Resumidamente, Tamires explora como as festividades e rituais nesse Templo refletiam a organização social e a legitimação do poder durante os períodos ptolomaico e romano, que ocorreram entre 323 a. E. C. e 641 E. C.

As belíssimas colunas com seus capitéis decorados. Foto: Tamires Machado

“Essas festividades podem ser vistas como momentos de agregação social, onde a comunidade interagia com a estrutura religiosa, que normalmente ficava acessível apenas aos sacerdotes e figuras estatais. Eram momentos importantes, por exemplo, na redistribuição de alimentos”, explica Tamires, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia (PPGArq) e integrante do Laboratório de Egiptologia do Museu Nacional/UFRJ (Seshat).

Essa pesquisa abrange os percursos das procissões, eventos ligados ao calendário agrícola e às cheias do Nilo, evidenciando como essas festas seguiam o ritmo da natureza e serviam como um veículo de organização social, onde cada escolha sempre tem a sua intencionalidade.

Lateral e fachada da Sala hipostila do Templo de Esna, em 2023. Foto do acervo de Tamires Machado

“A leitura e a escrita não eram acessíveis por todos da sociedade egípcia antiga. Então, existe uma certa intencionalidade naquilo que está registrado nos templos e precisamos fazer uma leitura das informações com uma perspectiva crítica”, ressalta a egiptóloga. Ela explica que é comum encontrar imagens de reis e faraós em destaque, em posições de vitória ou mesmo dançando com divindades.

Imperador Trajano dançando para Menhyt e Nebtou no Templo de Esna, em 2023. Foto: Tamires Machado
Limpeza do Templo traz novidades

Tamires explica que a Sala Hipostila do Templo de Esna é a única parte do local que sobreviveu. “A decoração é muito rica e distinta de outros templos do mesmo período. Cada capitel, que é o elemento decorativo que liga a coluna ao teto, é diferente um do outro, sendo adornados por motivos florais. E o que me impacta hoje é realmente ver as cores aparecendo, especialmente agora que ele está sendo restaurado”, comenta a pesquisadora que precisou aprender a ler os hieróglifos para acessar melhor as inscrições.

Com a recente reforma, iniciada em 2018, alguns registros que Tamires fez no trabalho de campo em 2023, ainda não estavam presentes nos registros do egiptólogo francês Serge Sauneron, feitos décadas atrás, sendo uma das bases bibliográficas de sua pesquisa. O Templo de Esna, com seu valor histórico e cultural, vem ganhando destaque turístico, promovido pelo governo egípcio. No doutorado, Tamires Machado tem a orientação da professora Cláudia Rodrigues de Carvalho, e a co-orientação da egiptóloga argentina e responsável pelo Projeto Neferhotep, María Violeta Pereyra, e do professor da Universidade de Cambridge, Rennan Lemos.

A pesquisadora Tamires Machado em outra atividade no Egito: Observação direta da cena da procissão funerária , no vestíbulo da Tumba de Neferhotep (TT49)

 

Saiba mais:

Nesse trabalho de campo, a doutoranda Thamires Machado participou de estudos na Tumba de Neferhotep, também chamada de TT49. Assista ao vídeo a seguir com mesa que ela fala um pouco sobre a cena que trabalhou:

Leia outra matéria do Harpia sobre as pesquisas no Egito:

Decifrando milênios no Egito: missões arqueológicas pesquisam reutilizações de tumbas. Acesse.

 

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