Acesse o site do Museu Nacional

Obituário: homenagens especiais aos servidores que nos deixaram em 2021

A saudade é imensa dos profissionais tão especiais que se dedicaram ao nosso Museu Nacional/UFRJ ao longo de décadas. Para esta matéria, convidamos pessoas próximas para escreverem sobre o professor Antonio Brancaglion, a professora Cátia Patiu, a servidora aposentada Edina de Moraes, a servidora aposentada e voluntária Lia Ribeiro, a professora Marcia Damaso e a professora Sonia Fraga. Todo o nosso respeito e admiração.

Antonio Brancaglion Jr.

 

“No ano de 2021 o Museu Nacional/UFRJ perdeu um dos pioneiros na pesquisa, docência e divulgação da área de Egiptologia no Brasil, o professor Dr. Antonio Brancaglion Jr. Dotado de uma paixão genuína pelo Egito Antigo, o professor Brancaglion possuía o dom de transportar aqueles que assistiam suas aulas diretamente para o Egito. Antes da sua entrada no Museu Nacional em 2001, a área de egiptologia esteve adormecida desde o falecimento do arqueólogo Albert Childe, em 1950.  Graças a sua dedicação e paixão genuínas, a área foi revitalizada a partir da formação de muitos pesquisadores, da fundação do Laboratório de Egiptologia do Museu Nacional – SESHAT, da criação do evento internacional Semana de Egiptologia do Museu Nacional, e da participação de pesquisadores e alunos sob sua orientação em uma missão arqueológica em Luxor, no âmbito do Neferhotep Project. Como todo bom pioneiro, o professor Antonio Brancaglion tinha um conhecimento muito amplo sobre o tema, possuindo domínio da língua, arqueologia e arte egípcia. Além disso, ele também era dotado de dons artísticos, que ao serem aplicados, davam um tom único e belo à sua pesquisa. Dono de um humor seco e sarcástico, Antonio fez amigos por todos os lugares em que foi. Sempre brindando a todos com muitas histórias engraçadas e inusitadas, ele certamente poderia escrever toda uma biblioteca de livros de egiptologia. Antonio Brancaglion Jr é o exemplo de alguém que seguiu uma paixão em sua totalidade, dedicando-se inteiramente a ela, e estabelecendo a Egiptologia enquanto uma profícua área de estudos no Brasil. Neste processo, abriu portas e realizou o sonho de toda uma geração de pesquisadores, os quais certamente darão continuidade ao seu incrível legado acadêmico”, homenagem da professora Andrea de Lessa Pinto, do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia e Departamento de Antropologia do Museu Nacional/UFRJ.

 

Cátia Antunes de Mello Patiu

 

“Professora Titular do Museu Nacional (UFRJ), foi exemplo de dedicação, competência, profissionalismo, generosidade e amizade. Recentemente aposentada, em função do tratamento de saúde, ingressou no Museu Nacional em 07/08/1997, instituição onde sempre quis atuar e que abrigava a coleção do Dr. Hugo de Souza Lopes e da Dra Rita Tibana, ambos especialistas em Sarcophagidae (Insecta, Diptera), já aposentados na ocasião de sua contratação. Desde seu ingresso no Departamento de Entomologia (DE) do Museu, dedicou sua pesquisa à taxonomia, sistemática, morfologia, filogenia e biologia de dípteros Muscomorpha, especialmente das famílias Sarcophagidae e Conopidae e também à entomologia forense, dando suporte a pesquisas nessa área e identificando dípteros muscoides colonizadores de cadáveres. Profissional mundialmente reconhecida, deixou importantíssima contribuição científica, incluindo inúmeros artigos, livros, capítulos de livros e diversas comunicações em congressos nacionais e internacionais. Foi professora e orientadora muito dedicada. Orientou estudantes em todos os níveis de formação: iniciação científica, mestrado, doutorado e supervisões de pós-doutorado. Ela sempre se preocupava com seus alunos, mesmo durante seu árduo tratamento. Adorava fazer trabalhos de campo e levava grupos com muitos alunos, inclusive em disciplinas de campo do Programa de Pós-graduação em Zoologia do Museu. Seu marido, Patiu, companheiro de 35 anos (mais 15 de namoro!), era muito presente nas atividades da Cátia e acompanhou várias expedições científicas, sempre muito animado e disposto a ajudar em qualquer atividade. As expedições com o casal Patiu eram sempre muito agradáveis e divertidas e o carro deles ficou famoso como o “Sarcomóvel” (foto). Cátia também foi pesquisadora do CNPq, atuou de forma brilhante no ensino à distância (CEDERJ), no EntomoRio, e teve dedicação destacada nos cuidados diários com a Coleção Científica de Entomologia do DE. Teve contribuição marcante no crescimento e organização dessa coleção e também em coleções de outros museus do Brasil e de países da América do Sul. Mais recentemente, coordenou o projeto SiBBR, sobre informações da biodiversidade brasileira, liderando todos os trabalhos e toda a equipe de técnicos. Depois do incêndio do Museu, trabalhou incansavelmente para a recuperação da coleção entomológica. Excelente filha, dedicou muitos anos da sua vida cuidando de seus pais idosos. Excelente mãe, deixa dois filhos, Felippe Patiu e Fábio Patiu, e uma netinha. Pessoa querida, admirada e respeitada por todas as pessoas que tiveram a oportunidade de conhecê-la em todas as instituições científicas, universidades e museus por onde passou. E preparava o melhor guacamole do planeta! Na sua despedida, seu marido Patiu colocou sobre ela a camisa do Museu … ‘O Museu sempre foi o time dela’. É com muita emoção e muita saudade que nos despedimos da nossa querida colega e amiga”, homenagem de Márcia Couri e Gabriel Mejdalani, professores do Departamento de Entomologia do Museu Nacional/UFRJ.

Sra. Edina Teixeira de Moraes

“A minha mãe entrou na UFRJ, no Museu Nacional, trabalhou como cozinheira até meiados de 1969, e depois passou a ser operadora telefônica, até se aposentar. Na mesa telefônica, ela conhecia as pessoas pela voz. Ela faleceu aos 95 anos e essa foto é do aniversário dela, em agosto deste ano”, homenagem do filho Elizeu Teixeira de Moraes, do setor de transportes do Museu Nacional/UFRJ.

 

Lia Márcia Ribeiro

“Despedida não teve, mas que permaneçam na lembrança os encontros imperfeitos! Lia no Museu Nacional e Márcia entre a família e amigos muito íntimos, essas são duas mulheres de uma mesma face. Uma carioca alegre, tricolor de coração, era do bem, da paz e do humor, uma ativista contra sofrimentos e injustiças. Emblemas que compartilhou com todos e por onde passou. Imagino como foi a sua atuação como representante da categoria dos técnicos-administrativos… Nas conversas, às vezes, ela comentava com carinho sobre o tempo em que trabalhou no Gabinete da Direção. Mas, realizada esteve quando compartilhou com os autores publicados pela Comissão de Publicações a sua experiência. Afinal, ela tinha especialização em tradução do inglês e formação em Letras. Amava o que fazia e sempre manteve gratidão à Professora Célia Ricci e respeito profundo ao Professor Ulisses Caramaschi. Como presente antes de se aposentar, fez com apreço o índice dos Arquivos do Museu Nacional de 1876-2010, intitulado “Bicentenário do Museu Nacional: Publicações Científicas: parte 1: Arquivos”, publicado pela Série Livros Digital. Com um lado espiritual muito forte, ela era ávida por conhecimento. Por isso, ela praticava e estudava continuamente a doutrina ensinada na Congregação Espírita Francisco de Paula da Tijuca. Era uma amiga muito especial. O amor não se continha dentro de si. Ela tinha que dividir com todos, principalmente com aqueles que mais precisavam. Foi assim que provavelmente se uniu à equipe do Centro de Valorização da Vida (CVV). O que posso dizer? Isso é que é uma pessoa amiga de verdade! Disponível até para aqueles que ela não conhecia. Mas, ela não era só caridosa não. Ela soube curtir a vida. Tinha uma vida cheia de histórias para contar. Foi dona de bar, namorou e viajou bastante, amava música, ler, teatro e passar seu tempo livre com os amigos. Sair com ela sempre foi uma alegria. Salvo na memória as nossas conversas e os nossos passeios. O interessante é que ela tinha uma característica única de agregar pessoas que nunca se viram, mas que se uniram a princípio por uma única afinidade: ela A pandemia chegou e nos tirou o convívio do dia a dia, mas falávamos sempre. Se eu não escrevia, logo ela mandava mensagem. Assim, o que posso dizer, a Lia ou Márcia, como você preferir, não foi, ela sempre será a minha, a nossa melhor parte. Ela sempre será a amiga Lia Márcia S. Ribeiro”, homenagem de Leandra de Oliveira, da Biblioteca Central do Museu Nacional/UFRJ.

 

Marcia Maria Damaso Vieira

“Marcia Damaso era a minha melhor amiga, desde sempre. Fui a primeira pessoa que ela viu e com quem conversou, ao receber, vinda dos EUA, a indicação de Bernard Comrie para se dirigir ao Museu Nacional, na década de 80. Encontramo-nos, por obra do destino, já dentro da instituição, antes mesmo de ela chegar ao Setor de Linguística. Fui eu quem a levou até a sala do Setor e disse que, naquele dia, a Profa. Yonne (Yonne de Freitas Leite) não estaria, mas que estaria no dia seguinte. Desde então, passamos a ser amigas, antes de tudo e de outras pessoas. Além UFRJ, foram anos em que frequentei a casa dela, conversava com a sua mãe andávamos de bicicleta na orla de Ipanema (queríamos realizar exercícios que fizessem bem a saúde; a sugestão de andar de bicicleta foi dela, que possuía então duas bicicletas em dois endereços em Ipanema – uma no apartamento dela e outra na casa de sua mãe, quando essa ainda dispunha de saúde e morava sozinha). Fui a aniversários do Gabriel, seu filho, assim como ela foi ao casamento da minha filha mais velha (Rachel) e participou de comemoração familiar minha, junto com meus filhos. Por muitas vezes, saímos juntas para comemorar o aniversário uma da outra (somos ambas cancerianas) ou simplesmente para almoçar ou jantar em restaurantes em Copacabana, ou mesmo em São Conrado, na casa de uma amiga comum que, a essas alturas, acabou de saber que Marcia faleceu. Não tínhamos barreiras para falar o que pensávamos uma para a outra, sem nunca termos nos afastado (e isso ao longo de décadas). Na própria UFRJ, na década de 90, obtive o primeiro contrato para ela, como pesquisadora colaboradora. Depois, lutando no CEPG e na própria COTAV, obtive as vagas dela e de Marcus Maia, nas quais estes fizeram o concurso que os colocou dentro da UFRJ. Ela estava ainda para defender a tese e a vaga para a qual ela faria concurso não pôde ser transformada em Assistente, o que foi possível para aquela em que Marcus veio a se inscrever).  Para que ela pudesse fazer o concurso na categoria Adjunto, foi necessário um grande vigor por parte dela. Foi com grande garra que ela terminou a tese a tempo, inscreveu-se dentro do prazo para o concurso e, por ocasião da posse, foi uma outra luta, desta feita para que o diploma da UNICAMP saísse a tempo. Tudo deu certo. E ela passou a ser do Museu Nacional/UFRJ. Entre o primeiro momento em que pisou pela primeira vez na instituição, vinda dos EUA, e a própria posse como professora da UFRJ, foram cerca de 10 anos. Nesse tempo, houve toda uma convivência com as pessoas/ pesquisadores do Museu que devem a Yonne Leite o fato de estarmos na Linguística como pessoas cuja formação passa pelo Museu Nacional – o que nos deu um grande diferencial devido à própria vocação institucional do Museu para o trabalho com povos e línguas indígenas, além da formação dentro da instituição (por meio de seminários, presença de pesquisadores de fora, interlocuções privilegiadas e qualificadas e isso muito antes de qualquer iniciativa de agências de fomento). Do ponto de vista acadêmico, posso dizer que conheço praticamente tudo o que ela escreveu. Fui membro suplente da sua banca de doutorado. Fiz, tempos atrás, a pedido da Profa. Ana Suelly Cabral, um texto de homenagem acadêmica a Marcia para uma publicação (ver anexo, com referência). Como a primeira pessoa que a recebeu no Museu Nacional, quis o destino que, às 22:15, à véspera de sua cirurgia, eu tenha sido muito provavelmente a última falar com ela. Terei, nas duas próximas semanas, o som da sua voz, na revisão de seu artigo a sair publicado em breve. Saiu da nossa convivência presencial trabalhando, criando. Ela não era só uma pessoa “lotada” no Museu Nacional, nem somente afável, generosa, modesta ou que ensinava diagramas em árvore. O seu tamanho era infinitamente maior. Era uma grande sintaticista, uma grande linguista, que não tinha medo dos dados de qualquer língua e conseguia criar dentro da teoria; não era só uma aplicadora de teoria (isso é para poucos no mundo). Para nós, era fundamental. Para nós, é perda irreparável.  Celebrando a sua vida, guardo na mente a frase que Fernando Tarallo disse para mim sobre a Marcia, dentro da UNICAMP, muitos anos atrás: ‘Para mim, a Márcia é ouro em pó’, homenagem da professora Marília Facó Soares, professora do Departamento de Antropologia, Linguística, do Museu Museu Nacional/UFRJ.

 

Sonia Maria Lopes Fraga

 

“Professora Titular do Museu Nacional (UFRJ), conhecida e reconhecida por sua grande dedicação ao Departamento de Entomologia (DE). Sonia foi Chefe de Departamento por longos anos, por mais de uma década, e muitas das conquistas e avanços do DE sem dúvida contaram com a dedicação incansável da nossa querida colega. Ela chegou ao Museu aos 19 anos, ainda como estudante, sob a orientação da Professora Isolda Rocha e Silva, especialista em insetos da ordem Blattaria (baratas). Sua vida científica foi dedicada ao estudo da taxonomia desses insetos e, durante alguns anos, também aos dípteros (moscas e mosquitos), em parceria com o Dr. Dalcy de Oliveira Albuquerque. Sonia, juntamente com a Prof. Isolda, colaborou na construção, desenvolvimento e organização da coleção de baratas do Museu, da qual foi curadora responsável. Sua paixão pelo estudo das baratas era contagiante. Sempre tinha exemplares de baratas lindas e interessantes no seu laboratório para mostrar como a percepção do público sobre esse grupo de insetos é incompleta. Aliás, todos que entravam no seu laboratório sempre foram muito bem recebidos. Sonia sempre abria um largo sorriso e estava sempre pronta a ajudar, especialmente nas questões administrativas que realizava com tanta competência. Coordenou o projeto sobre biodiversidade de baratas neotropicais e foi pesquisadora respeitada mundialmente por sua valiosa contribuição científica, que somou 141 artigos sobre taxonomia de Diptera e Blattaria. Foi pesquisadora do CNPq. Como Professora credenciada do Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas (Zoologia) do Museu Nacional, orientou dissertações de mestrado e doutorado, além de várias monografias e estudantes de iniciação científica. Sonia era uma colega muito agregadora. Sempre organizou com muito carinho e cuidado as confraternizações de Natal do Departamento. Foram festas sempre muito agradáveis e fartas, como ela gostava. Lá estavam todos, professores, técnicos, estagiários, trabalhadores terceirizados, todos abraçados por ela. Depois do incêndio, Sonia deu seguimento à sua dedicação ao Departamento e à recomposição da coleção entomológica. E mesmo durante seu tratamento participava das reuniões de Departamento, sempre com opiniões e posições muito importantes para nossas decisões. Excelente mãe, deixa um filho, Felipe Fraga, filho muito amável e amigo que dedicou todo seu carinho e amor durante o tratamento da sua mãe. A querida colega e amiga Sonia nos deixa muita saudade. Vamos precisar de muito punho para defender o Departamento como ela fazia. Muitas saudades de todos nós”, homenagem de Márcia Couri e Gabriel Mejdalani, professores do Departamento de Entomologia do Museu Nacional/UFRJ. A professora Sonia foi a redatora do Harpia que o Museu teve décadas atrás, e aqui tem uma entrevista com ela: Saiba como foi o boletim Harpia que circulou na década de 1990.

 

Um forte abraço para os amigos e familiares dessas pessoas tão especiais. Sentimos muito.

 

 

 

 

Compartilhe

Facebook
Twitter
Email
WhatsApp
Telegram