O Museu Nacional é uma segunda casa pra mim, onde sempre fiquei muito à vontade, tendo um carinho como se fosse um ente familiar. Eu amo isso daqui, sentindo muito orgulho de contar onde trabalho e sendo muito grata por esses 35 anos. O momento mais impactante para mim foi quando, anos atrás, começaram a devolver obras raras, que tinham sido roubadas. O caso teve grande repercussão na mídia, então, quem estava com elas deve ter se arrependido ou ficado com medo. Todo mundo sabia quais eram as publicações, então eles não tinham também como repassá-las. Lembro da chegada do primeiro pacote.
Quando liguei para o diretor da época, o Sérgio Alex, ele me atendeu com grande euforia, passando todos os cuidados que eu deveria ter e como proceder. E, a partir dali, foram chegando mais, mais e mais pacotes com essas preciosidades do acervo. Essas devoluções foram muito importantes para o Museu.
Poucos conhecem a importância do Protocolo. É muito mais do que receber e entregar correspondências, sendo um trabalho de muita responsabilidade, sempre com conteúdos tão importantes. No dia a dia, chegam entregas sem os dados completos do destinatário, então, eu fico buscando nos grupos, mandando e-mails, pesquisando no Google até encontrar a pessoa certa. Damos também orientações porque já conhecemos em detalhes os procedimentos da UFRJ e também quais países não estão recebendo correspondências do Brasil, por exemplo. Muitos nem imaginam o que fazemos aqui, que gostamos de estar aqui e continuamos por opção.
O início
Comecei em fevereiro de 1987, quando eu tinha 19 anos, cheia de gás e muito encantada com tudo. Volta e meia, eu me perdia pelos corredores do Palácio. Achava tão bonito aquele piso de tábua corrida encerado, mas após a Leda Dau quebrar o fêmur deixaram de encerá-lo. Lembro que as copeiras Marlene e Maria nos serviam o cafezinho em xícara de porcelana, e era de graça.
Nessa época, as equipes de Protocolo e de Pessoal trabalhavam juntas, formando a Seção Administrativa, a SA. E a chefe era a Maria Célia Ventura, e a Odete Nascimento, que hoje é do DV, estava como substituta. Entrei como autônoma, por prazo determinado. Ainda não sabia que o Museu era ligado à UFRJ, sendo uma instituição federal, e fui descobrindo isso ao ler nos envelopes que chegavam. Pouco a pouco, fui conhecendo sua importância para o país e para a ciência mundial. Por sorte, todos que éramos autônomos fomos absorvidos como servidores em julho de 1987 e passamos a estatutários em 1989. Isso mudou a minha vida! Foi no período da Direção da Leda Dau, e da nossa sala enorme, a gente avistava o Cristo. Assim que foi separada a Seção Administrativa, em Pessoal e em Protocolo, por volta de 1991, passamos para uma sala da frente e, depois, fomos para o térreo, onde ficamos até 2018. Nessa divisão, a Maria Célia ficou como chefe de Pessoal e a Itatiana Macedo como chefe do Protocolo.
Museu desde sempre na minha vida
Na minha infância, eu morava em Honório Gurgel e o nosso passeio de domingo era na Quinta da Boa Vista com visita ao Museu. Ainda não imaginava que viria a trabalhar aqui e nem da quantidade de pessoas que fazem o Museu acontecer. Quando entrei e trouxe minha mãe, ela lembrou com carinho desses nossos momentos de lazer. Hoje, quando olho para trás, fico com a sensação de não ter aproveitado mais as exposições, por mais que eu as visitasse desde sempre.
Meus filhos também têm ótimas recordações, tanto visitando comigo ou com meus colegas de trabalho, quanto com a equipe da SAE. Sinto saudades e alegria ao lembrar de como éramos unidos, trabalhando muito e dando conta das nossas responsabilidades, ao mesmo tempo, que a gente conversava, brincava e nos divertia. Até me emociono ao recordar disso! Sempre considerei como uma verdadeira família, que tem seus momentos de discussões também, o que é normal. Era engraçado porque, apesar de trabalhar o dia todo juntas, à noite continuávamos conversando horas pelo telefone e a minha mãe até me questionava como a gente poderia ainda ter tanto assunto. E tínhamos! Vimos os filhos de todas as amigas crescerem e casarem. Inclusive fui até madrinha de casamento do filho de uma delas. Sou muito grata porque meu primeiro emprego foi no Museu e tive aqui ótimas experiências de vida.
Com o passar dos anos, cursei quatro períodos de Biologia, desisti, e me formei em Psicologia. Hoje tenho no currículo uma pós-graduação em Gestão de Pessoas e estou querendo fazer outra pós. Gosto muito de estudar o comportamento humano e contribuir para quem precisa e também uso no meu autoconhecimento. Muita gente nem sabe que sou psicóloga, mas os que sabem até brincam porque na minha sala tem uma cadeirinha e as pessoas acabam sentando ali para conversar. Me perguntam “Essa cadeirinha é para você escutar, né?”. Isso é curioso e eu gosto, porque não fui eu que a coloquei ali e acaba sendo para escutar mesmo.
Trabalhar onde era o lazer de muitos
Eu gostava muito de visitar as exposições sobre os dinossauros, que eram lindas. Também me encantava aquele lado sombrio da sala das múmias do Egito, com aquela penumbra da luz meio avermelhada. E as exposições temporárias eram sempre muito bonitas. Lembro que o Antônio Carlos Souza Lima, do PPGAS, fez uma apresentação no auditório e levou umas baianas servindo acarajé. Foi um momento muito lindo! O período da Direção da professora Janira Martins Costa foi o que mais teve festividades e ela programava para os horários que viabilizavam a ida da maioria.
Atualmente, nos meus momentos de folga na minha casa, relaxo ouvindo Milton Nascimento, Zé Ramalho, Fagner, Fábio Júnior, Marisa Monte, Capital Inicial, alguns sertanejos, entre outros músicos e bandas: sou bem eclética. Também adoro ler e cozinhar. Antes, eu trazia para o trabalho para compartilhar com meus amigos um pavê, que fazia sucesso.
Futuro especial
Tenho certeza que será muito especial para todos nós, quando o Museu for reaberto para as visitações. Às vezes, eu fico com a impressão de que eu vivia antes no automático dentro daquela estrutura tão imponente, sem nem supor a falta que hoje sinto de estar no palácio. No incêndio, tive uma sensação como se tivesse perdido um familiar, com todos me ligando e perguntando: “É no seu Museu?”. Então, hoje eu imagino como será o dia que ele irá reabrir com as exposições. Será muito bom, de uma felicidade muito, muito grande mesmo! Espero estar viva em 2027 e poder aproveitá-lo ao máximo.
Só de ver este momento de retirada dos andaimes na fachada principal já me dá muita felicidade. Vejo que tudo está andando. Que ótimo que o Kellner está à frente, com tanta disposição para correr muito atrás e conseguir tantas conquistas para reabri-lo. Agradeço muito por isso. Pelo Protocolo, acompanho que tem muita coisa chegando e isso é ótimo.
Neste momento, percebo que ainda estamos fragmentados, cada um no seu espaço, até por estarmos uns no Campus de Pesquisa e Ensino e outros no Horto Botânico. Também pela pandemia ainda estamos distanciados, cada um no seu espaço, e quase não nos encontramos.
Mas desejo que todos que hoje fazem parte do Museu Nacional busquem ser mais amigos, cuidando desse convívio com carinho, empatia e humildade. É essencial construirmos juntos um ambiente de respeito à história de cada um, tanto dos que estão há décadas quanto das pessoas que estão chegando. Cada história tem sua importância e precisamos estar unidos. O Museu me dá um brilho nos olhos de emoção por estar aqui, e imagino que ele também proporcione isso de alguma forma na sua vida, estou certa?
Com carinho, um grande beijo no seu coração,
Rosilene Ferreira Soares da Silva
Protocolo do Museu Nacional/UFRJ