A partir de uma expedição científica, o professor do Museu Nacional/UFRJ, Daniel Sedorko, conseguiu a doação de um conjunto diversificado de fósseis invertebrados pelo serviço geológico peruano. O material foi coletado na região de Bagua Grande, sendo do Cretáceo Superior, com mais de 75 milhões de anos. Além de recompor o nosso acervo, irá contribuir com pesquisas sobre a compreensão de como foi o paleoambiente do continente sul-americano.
Importância dessa doação
Cabe destacar que a legislação peruana é semelhante à brasileira em relação aos fósseis encontrados. Foi necessária a autorização dessa doação pelo Instituto Geológico, Minero y Metalúrgico (INGEMMET), que é equivalente ao Serviço Geológico do Brasil (SGB). “Quando eu relatei a importância desses fósseis para recompor as nossas coleções, ele aceitou e percebi que ficou até lisonjeado de ter fósseis peruanos no Museu Nacional”, relembra Sedorko do Laboratório de Paleoinvertebrados, que recebe a nova coleção.
O professor explica que esses fósseis são comparáveis em tempo e composição com o que se tem no Nordeste brasileiro, em bacias como Araripe, Sergipe-Alagoas e Recôncavo. Isso permitirá correlações entre a fauna das bacias e a compreensão sobre o paleoambiente do Cretáceo no continente sul-americano.
Neste momento, está sendo concluída a catalogação dos exemplares. Estima-se que estejam variando entre 50 e 100 fósseis invertebrados, incluindo moluscos bivalves, gastrópodes, equinóides e amonites de diferentes tamanhos. O trabalho de contagem é criterioso porque em algumas peças há mais de um organismo.
Expedição científica
A expedição ocorreu em junho, durante 15 dias. Ela foi liderada pelo professor da USP de Ribeirão Preto, Max Langer, que tem um projeto com a FAPESP para estudar os dinossauros da América Latina. A Bacia de Bagua Grande tem fósseis bem preservados, sendo ainda pouco investigada. Fica na divisa com a Venezuela, e a equipe precisou cruzar a Cordilheira dos Andes para acessá-la. Participaram pesquisadores do Brasil e do exterior.
O professor Daniel Sedorko foi convidado para contribuir com a sua especialidade em Icnologia, estudando os vestígios no ambiente para identificar o paleoambiente, ou seja, compreender se ali foi um lago, um rio ou o mar. Esse ramo da Geologia, a grosso modo, observa as evidências da atividade biológica, como pegadas, sequência de pegadas, escavações, perfurações, e essas evidências são restritas a determinados paleoambientes. Por exemplo, há tocas produzidas por crustáceos que só ocorrem em contexto marinho, e outras, produzidas por larvas de insetos, que só ocorrem em contexto continental: rios ou lagos.
A expedição foi voltada para busca de fósseis vertebrados, onde o professor Daniel contribuiu também ao encontrar um crânio de crocodilo para os estudos liderados pelo professor Max Langer. As colaborações entre as instituições participantes irão gerar uma série de produções científicas previstas para os próximos anos.