Acaba de ser publicado artigo científico descrevendo dez novas espécies de grilos do gênero Neometrypus, que recebem os nomes de professores do Departamento de Entomologia do Museu Nacional/UFRJ. Elas ocorrem no Brasil, sendo uma na Amazônia e as demais em diferentes localidades com Mata Atlântica, incluindo a Estação Biológica de Santa Lúcia, no Espírito Santo. No início de novembro, a equipe recebeu a surpresa por e-mail, onde estavam relatadas curiosidades sobre o gênero e o arquivo com a publicação.
Trata-se de trabalho assinado pelo doutorando Lucas Denadai de Campos e pelo professor Pedro Souza Dias. Assim como Pedro finalizou a mensagem aos colegas, agora cada um tem um grilo para chamar de seu: a espécie N.azevedoi é uma homenagem ao professor Leonardo Henrique Gil Azevedo; N. carvalhoi para o professor Alcimar do Lago Carvalho; N. catiae para a professora Cátia Antunes de Mello-Patiu, que infelizmente faleceu no final deste mês de novembro; N. couriae para a professora Márcia Souto Couri; N. lopesae para a professora Sonia Lopes Fraga, que infelizmente também faleceu estes dias e foi a redatora do nosso primeiro boletim interno Harpia, décadas atrás; N. maiae para a professora Valéria Cid Maia; N. marcelae para a professora Marcela Laura Monné Freire; N. mejdalanii para o professor Gabriel Luis Figueira Mejdalani; N. mendoncae para a professora Maria Cleide de Mendonça; e a N. monnei para o professor emérito Miguel Monné.
Pedro Souza Dias tomou posse no Museu Nacional/UFRJ, em 3 de setembro de 2018. Então, presenciou de perto o luto da equipe do Departamento de Entomologia, e toda a resiliência desses professores neste processo de reconstrução, dando continuidade à orientação dos estudantes e à excelência na produção científica. Ele resolveu reunir mais material desse gênero para homenagear seus colegas numa só publicação. O material-tipo de N. maiae foi coletado na Estação Biológica de Santa Lúcia, que funciona como um campus avançado de pesquisas, a 78 quilômetros de Vitória, recebendo pesquisadores de inúmeras instituições brasileiras. São 440 hectares de extraordinária e ainda pouco estudada biodiversidade – o que equivale a 616 campos de futebol. Já o material-tipo da espécie N. lopesae, por exemplo, foi coletado em diferentes pontos do Rio de Janeiro, como o Parque Estadual da Pedra Branca, Parque Nacional da Tijuca e Parque Nacional do Itatiaia.
Até agora, somente três grilos desse gênero estavam descritos para a ciência, totalizando agora treze. E ele vem coletando essas espécies, que foram descritas agora, desde o seu mestrado, em parceria com outros especialistas, incluindo também grilos coletados por seu antigo orientador décadas atrás. “É uma espécie difícil de ser encontrada porque vive entre a vegetação arbustiva, e não existe uma forma de colocar uma isca, assim como é feito com borboletas ou moscas, por exemplo. Geralmente, os machos das demais espécies de grilo ‘cantam’ à noite para acasalar. Esses são diferentes, porque não estridulam, então suas capturas levam mais tempo para serem feitas. Sinto um carinho especial por eles, e o seu padrão de cores é interessante, incluindo laranja, branco, preto e vermelho”, explica o professor Pedro Souza Dias, responsável pelo Laboratório de Orthoptera do Departamento de Entomologia.
O estudo apresenta, além das descrições, o primeiro registro do comportamento de acasalamento e uma breve discussão sobre a comunicação entre esses grilos. “Os próximos passos agora serão estudar mais detalhes de seus comportamentos, incluindo como os machos chamam a atenção das fêmeas para o acasalamento, já que não utilizam as asas para emitir sons, e uma das minhas hipóteses é que eles usam as folhas dos arbustos, então iremos investigar mais a fundo isso”, informa Pedro.
Com o título “Hidden in the bushes: uncovering the diversity of the genus Neometrypus Desutter, 1988 n. status (Orthoptera: Gryllidae: Paroecanthini: Tafaliscina) in Neotropical forests”, foi publicado na publicação científica “Zootaxa”.
Conheça mais detalhes sobre a Estação Biológica de Santa Lúcia.