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Valéria Cid Maia lança livro de crônicas inspiradas em trabalhos de campo

Sabe aquelas situações inesperadas e curiosas do trabalho que nos divertimos ao contá-las para os familiares e amigos? Muitas poderiam até render um livro! E foi isso o que fez a professora do Departamento de Entomologia, Valéria Cid Maia. Ela acaba de compartilhar suas experiências mais inesquecíveis no livro literário “Crônicas de Uma Bióloga em Trabalho de Campo”. Publicado pela Editora Viseu, ele está disponível apenas para compra on-line nas livrarias, na forma impressa ou como e-book. Conheça essa conquista especial nesta entrevista que ela concedeu ao boletim Harpia:

Harpia – Como surgiu a ideia de escrever o livro ‘Crônicas de Uma Bióloga em Trabalho de Campo’?

Valéria Maia – É o primeiro livro literário que eu escrevo, e ele já estava na minha cabeça há muito tempo. No trabalho de campo acontecem tantas situações interessantes que, na hora, muitas podem até ser um sufoco, mas depois viram histórias engraçadas para a gente rir e contar depois. Então, pensei em reuni-las em formato de crônicas porque existe uma curiosidade natural das pessoas acerca do trabalho de um biólogo. Pra minha família e amigos, eu falo: “Vou pro mato essa semana!” e eles já sabem que o trabalho é árduo, mas rende boas histórias. Até no campo é muito comum me perguntarem: “O que você está fazendo aí?”. Percebo que as pessoas acabam fantasiando um pouco sobre como seja esse tipo de experiência, talvez nos vendo como os desbravadores de séculos atrás. Decidi escrever sobre isso, buscando desmistificar um pouco e mostrar as aventuras e as desventuras, sempre de uma forma leve e engraçada.

Harpia – Quando você deu o primeiro passo para escrever esse livro?

Valéria Maia – A ideia veio mais forte na pandemia, quando eu estava trabalhando alucinadamente com conteúdos técnicos. Então, resolvi descansar minha mente escrevendo essas histórias divertidas. Moro em Niterói e tenho o costume de espairecer na Orla de Icaraí. Na trégua da pandemia, ano passado, sentava na areia e ficava olhando o mar. Resolvi então, levar caneta e papel para escrever e reescrever as minhas lembranças. Até comento no livro que eu não sei se elas aconteceram exatamente como estão ali ou se a minha memória que registrou daquela maneira. Comecei a fazer trabalho de campo na época da graduação, então fiz uma seleção desses mais de 20 anos de histórias.

Harpia – Você poderia dividir com os leitores do Harpia alguns momentos que estão no livro?

Valéria Maia – Tem duas histórias que eu gosto muito e que vou relatar bem resumidamente aqui, buscando não dar spoilers. Uma delas é sobre uma experiência numa reserva biológica na Ilha Grande, que tive assim que assumi como professora do Museu Nacional/UFRJ. Fui acompanhar o trabalho de campo de uma estudante e estávamos junto com um servidor, que foi fotografar a pesquisa. Numa noite, esse servidor chegou me contando com entusiasmo que a areia estava acendendo. Como assim a areia acendendo? Logo achei que fosse impossível ser real. Fiquei bem desconfiada, e acabei indo lá conferir. Eu relato no livro como essa história fantástica, marcante e única na minha vida se desenrolou.

Harpia – E qual é a segunda história que podemos citar?

Valéria Maia – Sou apaixonada por golfinhos, e quem for da geração que assistia ao filme “Flipper” talvez possa se identificar com essa minha paixão. Certa vez, estava acompanhando o trabalho de campo de estudantes de mestrado na Ilha da Marambaia, e o calor estava escaldante. Avistamos um grupo de golfinhos e tivemos uma experiência incrível, encantadora, um sonho realizado e que compartilho no livro. Foi emocionante. Aliás, tenho muitas histórias curiosas em trabalho de campo que poderiam render mais livros!

Harpia – Posso imaginar! E o que você leva para a sua vida sobre essa experiência de reunir algumas dessas histórias no seu primeiro livro literário?

Valéria Maia – O que eu acho bacana disso é poder compartilhar minhas experiências de “pesquisadora-raiz” — assim como eu gosto de brincar! Gosto de ir a campo fazer as coletas para só depois trabalhar no laboratório. Estou mostrando como é o meu trabalho, sem falar de nada técnico, mas aproximando do público o cotidiano dos biólogos que trabalham na natureza. Busquei escrever de forma leve, divertida e poética, como a literatura nos permite. Acredito que esse livro possa despertar, de alguma forma, o olhar das pessoas para a importância de conhecer a natureza para conservá-la.

Harpia – Essencial mesmo. E, professora Valéria, como começou a sua relação com o Museu Nacional/UFRJ?

Valéria Maia – Começou na infância, nas visitas escolares. E, quando iniciei a graduação em Biologia no Fundão, tive alguns professores que atuavam também aqui no Museu. Eu percebia que todos se referiam aos pesquisadores do Museu com uma certa reverência e quis fazer parte disso. Nessa época, eu estagiava em um laboratório de ecologia, estudando um grupo de mosquitinhos, cujas larvas são parasitas de plantas. Mas, eu precisava da identificação das espécies e no Brasil, não tinha nenhum especialista nesse grupo. Aí, o professor Johan Becker, hoje falecido, me indicou para estudar a taxonomia desses mosquitos sob a orientação da professora Marcia Couri. Ela me aceitou no laboratório e fiquei muito feliz. Quando passei no concurso para professora do Museu Nacional, realizei meu sonho de vida! Até hoje divido com a Marcia o mesmo laboratório e isso é muito legal.

Trabalho de campo em Grumari
Harpia – Para finalizar a entrevista, nos conte quais são suas referências na literatura.

Valéria Maia – Gosto muito de literatura, principalmente de autores como Machado de Assis e Manuel Bandeira. As crônicas do Fernando Sabino também são inspiradoras por serem curtas e engraçadas, me despertando ótimas recordações de quando li na adolescência. E, na escola, minhas redações e poesias sempre eram escolhidas para serem lidas para a turma. Nesse tempo, até brincavam me apelidando de Valéria Cecília e uma amiga que também gosta de escrever de Silvana Meireles, nos remetendo à escritora Cecília Meireles. E eu escrevo sempre para mim em cadernos, tenho esse hábito. Considero esse livro de crônicas como um teste. Quem sabe eu passo para novos desafios? Já até estou pensando em escrever um outro livro e já tenho até o título “Crônicas de uma Míope Distraída”. Quem for míope, com certeza, vai se identificar com as histórias e quem não for vai se divertir como os nossos “micos”!

Saiba mais:

Livro “Crônicas de Uma Bióloga em Trabalho de Campo“. Está disponível para compra on-line no site da Editora Viseu e em alguns outros sites de livrarias, como a Amazon.

 

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