Pensar em como levar a ciência ao público, em linguagem acessível, é algo que todos nós do Museu Nacional/UFRJ procuramos fazer com muita dedicação. Por meio das experiências de encantamento convidamos o público a realizar reflexões interessantes sobre o que produzimos. E as pessoas só valorizam o que elas conhecem. É fato. Mas fui surpreendido positivamente com algo além disso no inspirador evento “Domingo com Ciência na Quinta”.
Ele foi realizado ainda no contexto das comemorações dos 205 anos do Museu Nacional/UFRJ, aproveitando o aniversário da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), e o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico. O domingo, 16 de julho, já estava sensacional, com cerca de 5 mil visitantes aproveitando as mais de 160 atividades. Muito sol e alegria, com crianças e adultos podendo participar dessas diversas ações organizadas pelas principais instituições científicas sediadas no Rio de Janeiro, numa bonita troca de saberes e olhares encantados.
Eis que pouco depois de meio-dia, foram feitos diversos pronunciamentos. O presidente da SBPC, professor Renato Janine Ribeiro, enalteceu muito a relevância do evento, agradecendo as diversas instituições e o público pela presença. Entre os que fizeram um rápido discurso destacando o importante significado daquela verdadeira festa da ciência, estava o presidente da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo a Ciência do Rio de Janeiro (FAPERJ), professor Jerson Lima da Silva, que, aliás, não apenas foi um dos patrocinadores, mas que tem ajudado no desenvolvimento da ciência fluminense.
Qual foi a minha surpresa quando ele confidenciou aos presentes que havia escrito um poema em homenagem ao Parque da Quinta da Boa Vista, destacando o Museu Nacional/UFRJ! É um poema que nos convida a refletir sobre o passado, o agora e o futuro da ciência e da cultura.
Após a cerimônia, pedi para que o professor Jerson me enviasse o poema e solicitei permissão para publicar, o que faço aqui, antes que ele desista:
O Meu Museu
Por Jerson Lima da Silva
“Manhã ensolarada de domingo
A Mãe conduz seu filho para uma aventura mágica
De Madureira a São Cristóvão
Com sua sinfonia ontológica
O trem lotado de crianças chocalha
Eis que em meio a uma floresta fascinante
Insurge no horizonte o nosso Museu Nacional
Contrastando com a aridez das linhas férreas
O Palácio se destaca brilhante
O caminhar até a Quinta é palpitante
Uma infindável fila aguça a curiosidade das crianças
As escadarias dão acesso à esperança
Onde se descortina o mundo das ciências
Àqueles pequenos olhos e grandes mentes
Sede do desconhecido, o saber tem pressa
As múmias, o dinossauro e a baleia se escondem nas lembranças
Forjam para sempre nossas almas com história e conhecimento
Enquanto o mobiliário imperial respira seu aroma hipnotizante
Gerações despertas para a sabedoria
E o que fazer com o agora?
O que deixar para as gerações do porvir?
Não ao desprezo pela cultura e pela ciência!
As labaredas foram o retrato do Brasil que não queremos
E o trem do futuro vem devolver Luzia
E toda a sapiência perdida”.
É muito bacana ver essa faceta pessoal de um pesquisador de renome, mostrando que cientistas são pessoas como todas as outras. Ainda mais nesse tipo de evento que leva a ciência ao diálogo acessível com o público, mostrando que todo mundo que quiser e tiver oportunidades pode ser um cientista ou, pelo menos, valorizar a produção científica.
Que possamos, no prazo previsto, abrir completamente as portas do Paço de São Cristóvão ao público, dando continuidade à missão do nosso tão importante museu de história natural e antropologia, com essa importante vertente da história do país antes mesmo de sua Independência!
Obrigado, Jerson! Obrigado a todos que valorizam a ciência e estão conosco nesse esperançoso trem do futuro!
Alexander W. A. Kellner
Diretor do Museu Nacional/UFRJ