O Museu Nacional/UFRJ sempre me surpreendeu, sendo um ambiente diferenciado, tanto pelas pessoas quanto pelo universo de curiosidades científicas, educativas e culturais em que estamos. Ele está diretamente ligado a quem eu sou, à minha dedicação ao trabalho, estando presente na maior parte da minha vida. Aqui, sou sempre estimulado, inclusive me despertando a vontade de fazer a graduação em Museologia e o mestrado em Arqueologia.
Sabemos que temos uma relevante história bicentenária para a produção e a difusão da ciência, da cultura e do ensino para o nosso país e o mundo. Para mim, é essencial estar conectado e vivenciando tudo isso, em cada oportunidade. Percebo essa intenção de contribuir, somar e engrandecer o Museu Nacional também nas outras pessoas que estão aqui trabalhando e pesquisando, sempre com satisfação. Cada um cumpre muito mais do que o seu papel. E, juntos, estamos tendo um sucesso enorme ao enfrentar este momento de reconstrução. Apesar das perdas insubstituíveis, acredito que conseguiremos superar expectativas, porque estamos muito comprometidos, contando também com as contribuições imprescindíveis dos parceiros e da sociedade. O Museu é muito importante para mim, logo após a minha família.
Ambiente inspirador para pesquisar
Fui incentivado a voltar a estudar, especialmente pela Regina Dantas. Até então eu tinha cursado o Técnico em Edificações. Minhas pesquisas para a graduação em Museologia, na UNIRIO, e o mestrado em Arqueologia aqui pelo Museu Nacional/UFRJ foram sobre a Coleção Japonesa do Setor de Etnologia. E foi por acaso que escolhi esse tema. Há uns 20 anos mais ou menos, eu estava fazendo uma reforma no LCCR, no Anexo, quando me deparei com uma espada de samurai, que estava ali para ser restaurada. Aquilo me chamou a atenção e somente uns 10 anos depois que eu consegui ter acesso à Coleção Japonesa toda. Quando estava na fase de escolher um tema para a monografia, decidi pesquisar uma armadura lindíssima, dourada, que tinha um leve estrago na manga. Durante a pesquisa fui entendendo o motivo dela não estar nas exposições: faltavam informações completas e eu fui buscá-las. Depois, aprimorei essa pesquisa no mestrado.
A Coleção Japonesa não estava completamente descrita no Livro de Tombo, tendo uma omissão de dados, como o doador e a data de entrada. Então, pesquisei em outros documentos, incluindo o Livro de Porteiro, que existiu no período em que o Museu ainda ficava no Campo de Santana até 1892. Essa Coleção não estava lá. Identifiquei que houve a entrada da descrição dessas peças somente em 1906, no início do Livro de Arqueologia. Pouco a pouco, fui descobrindo pelos arquivos históricos alguns elementos e nuances de ligação ao Museu do Imperador, que ocupou algumas salas do Paço de São Cristóvão. Tinha, por exemplo, um pedido de informações, em 1914, sobre uma peça da Coleção Japonesa. Ali, havia uma solicitação de autorização para o diretor da época, perguntando se poderia ser informado que a Coleção pertenceu ao Imperador. Portanto, concluí que ela já estava aqui, sendo incorporada ao Museu Nacional.
Ao estudar Arqueologia, fiquei muito encantado também com os sambaquis e toda a ancestralidade e a ocupação da América pelo homem. As próprias descobertas arqueológicas do palácio, a partir das escavações que estão sendo feitas agora na reconstrução, são surpreendentes, revelando detalhes da arquitetura e do cotidiano de diferentes momentos, que a gente ainda desconhecia.
Orgulho por fazer parte
As exposições sempre foram muito marcantes. Eu trabalhava muito com a museóloga e historiadora Thereza Baumann, que era a chefe da Seção de Museologia, nas montagens de exposições. Foi extremamente interessante a do Egito, assim como a Pré-Colombiana. E, pra mim, a mais icônica foi a da Sala de Dinossauros, que rendeu uma fila gigantesca que dava quase na rampa de subida do Museu, com mais de 10 mil visitantes por semana. Lembro que para a gente conseguir fechar o Museu tínhamos que posicionar um vigilante no final da fila porque dava trabalho! A retomada das exposições, neste momento de reconstrução, também foi importante, onde sempre são escolhidas peças a dedo para levar à sociedade.
Nossos eventos abertos para a população na Quinta da Boa Vista são de grande destaque e muito gratificantes. Dá muito trabalho desenvolver a estrutura para receber inúmeras pessoas, mas me dá uma felicidade interior, uma satisfação enorme de ver o sucesso do Museu Nacional. E sempre foi muito interessante passar pelos laboratórios e departamentos e os pesquisadores apresentarem com entusiasmo seus besouros da Amazônia, suas baratas da África, suas conchas e fósseis de diferentes lugares do mundo, e tantas peças de acervo científico e expositivo.
Presente em duas revitalizações da fachada
Quando cheguei no Museu, a fachada do palácio ainda era rosa. Participei da equipe que fez a reforma para devolver a cor amarela ao Paço de São Cristóvão, por volta de 2010. A nova cor foi escolhida após uma pesquisa que definiu a cor original do Museu Nacional. A pesquisa física, detectou até a cor branca entre as camadas de tinta. O que determinou mesmo a escolha do amarelo foram as descrições do palácio pela escritora, historiadora, pintora e desenhista Maria Graham, que veio visitar o Brasil nos tempos da Imperatriz Leopoldina e de Dom Pedro I. Após isso, uma boa parte dos prédios que estavam na cor rosa passaram a ser amarelos também. O nosso estava rosa porque, na década de 1940, teve uma determinação do Iphan para que os prédios tombados ficassem com aquela coloração.
E, em setembro de 2022, pudemos devolver a fachada principal inteiramente restaurada para a sociedade, com material de alta qualidade. Foi um alento ver o Museu com a retomada de sua imagem, ficando ainda mais bonito em cada detalhe. É bem gratificante olhar para ele depois de tudo o que passamos. Atuei em diferentes fases do Resgate do Acervo, de alguma forma, dando apoio nas ações, e também nas escavações na área da Sala da Direção. Foi decepcionante encontrar tudo destruído, mas tivemos algumas boas surpresas, como as peças que saíram praticamente intactas. O momento que ficamos sabendo do resgate da Luzia foi muito importante para o Museu, assim como o momento dos meteoritos.
As parcerias e financiamentos estão sendo essenciais para cada passo que estamos dando. Estamos buscando também a revitalização do Horto Botânico. Gosto muito de estar ali também, por ser uma área arborizada, bastante calma. Conheci o Lago da Vitória-Régia funcional, quando ainda tinha vitória-régia. Vamos conseguir essa revitalização importante também.
Em todo esse processo de reconstrução, é bonito ver a dedicação do nosso corpo social, principalmente na SAMN, como voluntários, além de tudo o que já fazem em suas rotinas. É por meio dessa Associação de Amigos do Museu Nacional que estamos conseguindo consolidar muitas conquistas, fazer contratações e gestão de projetos, assim como contamos também com a contribuição importante do Projeto Museu Nacional Vive, atuando com uma equipe enorme. Durante minha estada aqui no Museu, já fui presidente, vice-presidente e tesoureiro da SAMN e hoje estou no Conselho Fiscal. Dá muito trabalho, mas é satisfatório.
A chegada
Entrei na UFRJ em 1987, como técnico em edificações, trabalhando em diferentes obras e, quando eu estava na Prefeitura Universitária, fui escalado para substituir o engenheiro que estava no Museu Nacional/UFRJ. Fiquei por aqui por volta de um ano e meio, mais ou menos, ainda com o vínculo com a Prefeitura. Foi então que, no início da década de 1990, a Direção do Museu solicitou a minha transferência e passei a ser servidor do Museu Nacional, chefiando uma equipe de manutenção, com eletricista, bombeiro, marceneiro, pedreiro, entre outros profissionais. Após um tempo, passei para a Administração do Museu, onde fiquei em torno de 10 anos. E, no início dos anos 2000, fui convidado para ser diretor-adjunto Administrativo, onde estou até hoje, passando por diferentes gestões.
Família e horas de lazer
Minha família é muito importante na minha vida. Tenho dois filhos e sou casado há 32 anos com a Carla. O William tem 30 anos, é engenheiro de computação e está morando na Barra. E a Lívia Maria vai completar 26 agora, é psicóloga e está fazendo mestrado na federal de Rondônia, porque casou com um militar e estão morando lá atualmente. Meus pais compraram um apartamento em Cabo Frio, então tenho ido para lá nas minhas folgas e gostado muito. E sou botafoguense: o Botafogo não anda bem das pernas, mas fazer o quê? Faz parte! Às vezes, vou ao estádio com meu filho, mas depois da pandemia tenho mais assistido pela TV ou escutado pelo rádio. Quanto a músicas, o rock é a minha praia e fui ao primeiro Rock In Rio, quando eu tinha entre 15 e 17 anos, para assistir aos shows do Queen e do Iron Maiden. Também gosto de U2.
Nasci em Nilópolis, morava em Mesquita e o passeio à Quinta da Boa Vista com a visita ao Museu Nacional fez parte da minha infância. Era algo do cotidiano e nunca imaginei trabalhar aqui. Só quando fui trabalhar na UFRJ que fiquei sabendo que o Museu é da Universidade.
Passei por diferentes momentos aqui. Lembro de ter sido escolhido para representar o corpo social, durante uma homenagem ao Museu Nacional no Auditório Roquette-Pinto. Ao receber a medalha, todos aplaudiram de pé e fiquei bem emocionado, naquele dia. É uma grande satisfação trabalhar aqui e contribuir com esse nosso processo de reconstrução. Estou muito confiante que vamos conseguir reinaugurar o Museu o quanto antes, com a presença de todos nós!
Um abraço,
Wagner William Martins
Diretor-Adjunto Administrativo do Museu Nacional/UFRJ.