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Um olhar sobre o Museu

Recebemos a população com diversas atividades científicas e culturais nos 205 anos do Museu, na Quinta da Boa Vista, em 4 de junho. Crédito: Diogo Vasconcellos

Mais um aniversário do primeiro museu do Brasil. São 205 anos de atividade desde sua fundação por D. João VI (1767-1826) em 6 de junho de 1818. Cinco anos se passaram do nosso bicentenário e quase igual tempo da maior tragédia no campo cultural e científico do país, que transcendeu as fronteiras brasileiras. Sim, já repeti isso diversas vezes e devo continuar tocando nesse ponto, pois é necessário que a sociedade compreenda a sua responsabilidade em cuidar melhor do nosso patrimônio científico, histórico e cultural.

No caso do Museu Nacional/UFRJ, também do acervo de outros países, como as múmias do Egito Antigo, os fósseis de distintos países e os artefatos arqueológicos da Europa – só para destacar alguns tipos de acervo que foram perdidos ou muito afetados pelo incêndio.

Para nós, da instituição, foram anos difíceis, mas os tempos parecem estar mudando. Não tem como não olhar para trás com um sentimento um tanto amargo, ao mesmo tempo que olhamos para frente com alguma esperança. Um dos pontos que nos deixa mais frustrados – não apenas o corpo social, mas também a Diretoria –, é não termos logrado entregar uma normalidade acadêmica à instituição. Mesmo tendo chamado a atenção da Universidade, que, em um certo momento, deixou claro que essa responsabilidade era a sua e não do Museu. Sempre argumentamos que, sem um Escritório de Planejamento (EPlan), com uma estrutura mínima de engenheiros e arquitetos, tudo fica muito mais difícil.

Somente no ano passado conseguimos fazer com que houvesse uma mudança da coordenação da reconstrução da instituição que representava a Universidade (que não deve ser confundida com a do Projeto Museu Nacional Vive, que anda em paralelo). Tal fato fez com que houvesse avanços, mesmo que ainda não suficientes. Sendo assim, estamos conversando com a nova Reitoria, que deverá assumir em julho de 2023, que o Museu precisa de seu EPlan e não o ter é um contrassenso e um equívoco a ser sanado o quanto antes. Felizmente, a Associação Amigos do Museu Nacional (SAMN) tem-se esmerado em procurar suprir algumas deficiências de ordem técnica, visando dar mais celeridade a diferentes projetos e obras.

Falando em obras, as do Paço de São Cristóvão estão andando dentro do esperado, mas o que mais nos incomoda são os módulos emergenciais… Chega a ser inacreditável que, possuindo recursos, a Universidade não tenha conseguido resolver essa situação. Assim, decidimos passar a assumir essa questão e temos avançado. A esperança é que, no final do corrente ano, todas as instalações que não haviam sido previstas ou foram cortadas pelo Escritório Técnico Universitário (o famoso ETU) e para as quais a Direção teve que encontrar novos recursos, sejam finalizadas. Esperamos que, na virada do ano, possamos, finalmente, de maneira minimamente digna, ter de volta as partes laboratoriais e acadêmicas dos departamentos que tudo perderam. Agradecemos aos demais departamentos, que também continuam sendo muito impactados, pela sua solidariedade com os colegas.

Avançamos, graças à SAMN e ao Projeto Museu Nacional Vive com a Biblioteca, cujos trabalhos estão sendo checados. Mas, recentemente soubemos de surpresas de última hora por parte do Corpo de Bombeiros que terão que ser sanadas. Acho que não preciso dizer que novos recursos terão que ser encontrados… Felizmente, acreditamos que antes do final de 2023 teremos tudo acertado.

Porém, a UFRJ nos ajudou de alguma forma nesses últimos anos. Temos uma equipe mínima de manutenção predial e, pela primeira vez, brigadistas! Mesmo que o número ainda não seja o adequado para cuidar das nossas três áreas (palácio, Horto e Campus), fato é que estamos avançando. Na nossa próxima reunião com o MEC, vamos pleitear que no orçamento da UFRJ seja destinada uma rubrica especial para a manutenção do Museu. Essa seria uma importante sinalização do Ministério que vai cuidar melhor do primeiro museu brasileiro – o que seria não apenas um alívio para todos nós, mas sim uma inequívoca sinalização de responsabilidade que certamente será visto com bons olhos pelos atuais e futuros patrocinadores e apoiadores da reconstrução do Museu.

Como temos relatado em diversas ocasiões, estamos tendo uma atenção especial por parte do novo governo. A visita do Presidente da República, sendo a primeira de um líder de Estado em 54 anos, com muitos dos seus ministros, nos encheram de esperança. Novamente, cabe destaque para o engajamento do MEC, que tomou para si a responsabilidade de auxiliar na reconstrução do Museu. Agora, temos a incumbência de devolver a maior parte possível do Museu Nacional no Paço de São Cristóvão para a sociedade, operando e recebendo o público com as exposições de história natural e antropologia, proporcionando experiências de encantamento!

Trata-se de um tremendo desafio, pois teremos que pensar no que vamos expor no primeiro semestre de 2026. Conforme já é de conhecimento da casa, vamos ter que contratar profissionais para nos ajudar nessa hercúlea tarefa. A ideia é ter, nas áreas expositivas de cerca de 2.600 m2, uma parte permanente (que envolve também as salas históricas), sendo uma parte provisória de 2026 até a abertura completa do Museu e outra temporária, que deveria ser modificada de tempos em tempos. Cai sobre todos nós, em especial sobre a Direção, fazer frente a esse desafio.

Ainda sobre exposições, precisamos ter mais celeridade em pensar as mostras permanentes, previstas para a abertura em 2028, que será um passo seguinte. Agradeço a Comissão de Coordenação das Novas Exposições, formada pelos profissionais da Seção de Museologia (SEMU), e a Comissão Curatorial pelo incansável trabalho.

Não é segredo para ninguém que se trata de um projeto de grande complexidade e único em termos de Brasil, visto as diferentes áreas de conhecimento que o Museu abarca – desde dinossauros e minerais, até questões antropológicas e da cultura. Também deve ser destacado a grande importância que deverá ocupar a biodiversidade nessas exposições. O público – nacional e internacional – espera ver retratado, no país com a maior biodiversidade a nível mundial, parte desta representada na principal instituição museal de história natural do Brasil. E o Paço de São Cristóvão, por si, tem as suas especificidades, muitas vezes desafiadoras por se tratar de um prédio histórico e tombado.

Além de tudo, nunca é demais destacar que, em 2024, existe a perspectiva de comemorar pelo menos parte do aniversário do Museu já dentro do palácio. A proposta é a de abrir, nem que seja a nível parcial, a sala onde se encontra o meteorito Bendegó e a área da escada monumental, que será recoberta por uma claraboia. Nessa área, esperamos montar o nosso cachalote, de aproximadamente15.7 metros! Ele hoje se encontra na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca. Será emocionante, mas, novamente, muito trabalho nos espera.

Mesmo assim, confesso a vocês que nunca estive tão confiante! Vamos juntos e unidos trabalhar para reconstruir o Museu Nacional/UFRJ e temos uma real perspectiva para isso! A festa que foi feita no domingo de 4 de junho demonstra a importância da nossa instituição e a boa receptividade que temos diante do público.

Foi muito bonita a troca entre o corpo social, a sociedade e nossos parceiros! Créditos: Diogo Vasconcellos (MN/UFRJ)

Como sempre mencionamos: O Museu Nacional vive!

 

Um forte abraço,

Alexander Kellner

Diretor do Museu Nacional/UFRJ.

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