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Produções científicas do Museu Nacional/UFRJ ganham reconhecimentos

As pesquisas do Museu Nacional/UFRJ continuam ininterruptas e trazendo novidades científicas. O antropólogo e professor João Pacheco de Oliveira recebeu agora em outubro o Prêmio ANPOCS de Excelência Acadêmica, pelo conjunto de suas produções. E, na 16ª Edição do Prêmio CAPES de Tese, recebemos duas menções honrosas por teses defendidas: no PPGAS, por Daniela Fernandes Alarcon com a orientação de João Pacheco e, no PPGArq, por Simon-Pierre Gilson, sendo orientado pela professora Andrea de Lessa Pinto.

 

Prêmio ANPOCS de Excelência Acadêmica

Durante o 45º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), o professor e curador das Coleções Etnográficas do Museu Nacional/UFRJ, João Pacheco, recebeu o Prêmio ANPOCS de Excelência Acadêmica Gilberto Velho em Antropologia. Em transmissão on-line no YouTube, ele foi apresentado por Otávio Velho, do Museu Nacional e irmão de Gilberto Velho. Sua trajetória foi destacada ao dar prosseguimento ao estudo sobre os Tikuna feito por seu orientador de mestrado, Roberto Cardoso de Oliveira. Trata-se, porém, de uma contribuição original e ímpar, estabelecendo relações dialógicas com os indígenas com os quais conviveu longamente. Com os Tikunas fundou em 1991 o Museu Maguta, primeiro museu indígena do país. Foi importante a sua contribuição para a antropologia por meio de pesquisas, livros e exposições, mas também por meio da formação de quase uma centena de mestres e doutores em Antropologia no PPGAS/MN. Otávio ressaltou que o trabalho do professor João Pacheco foi fundamental para que se alargasse a percepção da presença indígena no país, sobretudo no nordeste, porque antes eles eram identificados quase exclusivamente na Amazônia. Ele também é o curador das coleções etnográficas do Museu Nacional/UFRJ e o organizador da exposição “Os Primeiros Brasileiros”, que já percorreu 12 estados e é a primeira exposição digital da instituição. Assista à íntegra da cerimônia de premiação aqui:

 

 

Saiba mais:

– Visite a exposição virtual “Os Primeiros Brasileiros”.

– O professor João Pacheco de Oliveira mantem o site www.jpoantropologia.com.br.

 

Menções honrosas na Edição 2021 do Prêmio CAPES de Tese 

O processo seletivo do Prêmio CAPES de Tese considera a originalidade, a relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e social do país, a qualidade e quantidade de publicações decorrentes da tese, sua metodologia, redação, estrutura e organização do texto. Na edição deste ano, os trabalhos acadêmico-científicos de dois doutores pelos Programas de Pós-Graduação do Museu Nacional/UFRJ receberam menções honrosas. Tanto o pesquisador quanto o orientador recebem igualmente o Prêmio.

Tese sobre mobilização e recuperação territorial entre os Tupinambá
O professor João Pacheco e a pesquisadora Daniela Alarcon
O professor João Pacheco e a pesquisadora Daniela Alarcon

A pesquisadora Daniela Alarcon defendeu em seu doutorado em Antropologia Social a tese “O retorno dos parentes: mobilização e recuperação territorial entre os Tupinambá da Serra do Padeiro, sul da Bahia”. A aproximação com o contexto se deu pouco antes de ingressar no mestrado na Universidade de Brasília (UnB), quando ela teve contato com a liderança e pesquisadora tupinambá Glicéria Jesus da Silva, e ficou sensibilizada pela criminalização que eles vinham sofrendo no processo de luta pela terra. “Na dissertação de mestrado, pesquisei as retomadas de terras, e passei a ser uma aliada dos Tupinambá. O tema do doutorado, no Museu Nacional, foi um desdobramento, focalizando o retorno dos parentes, dos indígenas que foram expulsos do território devido ao esbulho. Reconstituindo as trajetórias, encontrei histórias fascinantes, de pessoas que estavam na diáspora e, com o início da recuperação territorial, largaram tudo e voltaram para o sul da Bahia, para onde seus umbigos e antepassados estavam enterrados, para fazer parte da mobilização”, explica Daniela Alarcon, que foi orientada pelo professor João Pacheco.

No desenvolvimento da pesquisa, eles aliaram trabalho de campo e pesquisa documental. “Ao longo do processo, ouvi histórias trágicas, memórias dolorosas, mas, ao mesmo tempo, percebi a força dos Tupinambá. Fiquei tocada com a luta, que envolve das crianças aos anciões. Os Tupinambá obtiveram vitórias importantes na luta pela terra e acredito que isso seja inspirador para qualquer pessoa minimamente comprometida com a construção de uma sociedade mais justa”, avalia a pesquisadora. Ela conta que fico honrada ao receber menção honrosa no Prêmio Capes: “Esse prêmio veio após o incêndio do Museu Nacional, que atravessou meu doutorado. E o trabalho é sobre uma luta que foi muito criminalizada e reprimida – vários indígenas foram presos ou mortos no processo. O reconhecimento diz muito sobre o acerto da mobilização tupinambá. Sem falar que lideranças tupinambá, outros antropólogos e eu fomos todos mencionados no relatório final da CPI da Funai e do Incra, que pediu meu indiciamento por cinco crimes, entre os quais calúnia, difamação e esbulho possessório, atacando a liberdade da pesquisa. Então, receber esse prêmio é também uma resposta e tem, no mínimo, um sabor interessante”, destaca Daniela, que no momento está nos Estados Unidos, na University of Pennsylvania, como pesquisadora associada a um importante projeto, que investiga processos de expropriação de territórios, corpos e patrimônios culturais de povos indígenas e afrodescendentes nas Américas.

Na opinião do professor do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS), João Pacheco, que orientou a tese, o grande mérito desse trabalho é, de certo modo, recuperar na bibliografia brasileira uma das populações mais conhecidas dentro da literatura etnológica, que são os Tupinambá, que têm sua importância histórica na América, e já até foram considerados como extintos. “A Daniela transformou o objeto de estudo vivo, contemporâneo, com uma série de abordagens a partir da teoria e da bibliografia de hoje. O antropólogo passa um tempo em convívio com o grupo social, se envolvendo profundamente, então a pesquisa neutra não existe mais. Uma marca da pesquisa antropológica contemporânea, especialmente no Brasil, é a criatividade com as pesquisas profundamente afetadas, sendo escritas do ponto de vista dos povos indígenas ou de outras populações pesquisadas“.

O PPGAS tem nota 7, que é a nota máxima na Capes, sendo um Programa de referência no Brasil. “Essa menção honrosa no Prêmio não é novidade na história do Museu Nacional, mas a partir de 2018, do ponto de vista afetivo, esse tipo de reconhecimento é também para o Museu e pela luta por sua sobrevivência e continuidade, acredito, até em condições melhores. Estamos em um renascimento da própria instituição, e o Museu será qualitativamente diferente, sendo mais moderno, descolonizado, e participativo da vida social”, finaliza João Pacheco.

 

Saiba mais:

  • A tese está disponível aqui.
  • Em breve, o conteúdo desse trabalho será lançado em livro pelo Laboratório de Pesquisas em Etnicidade, Cultura e Desenvolvimento do MN/UFRJ (Laced).
  • Em 2015, foi lançado o documentário “Tupinambá – O Retorno da Terra”, dirigido por Daniela, que pode ser assistido aqui.
  • Daniela lançou em 2020 o livro “Os Donos da Terra”, com sete histórias em quadrinhos, em coautoria com o artista visual Vitor Flynn Paciornik e a pesquisadora tupinambá Glicéria Jesus da Silva. O livro está com acesso livre na Editora Elefante para você baixá-lo para você e para presentear.

 

Tese sobre estilo de vida de grupos pré-coloniais no litoral sul do Brasil

A professora Andrea de Lessa Pinto e o pesquisador Simon-Pierre
A professora Andrea de Lessa Pinto e o pesquisador Simon-Pierre

Com o título “Estilo de Vida de Pescadores-Caçadores-Coletores sob uma Perspectiva Ecossistêmica – Análise Arqueozoológica do Sítio Rio do Meio/SC”, o pesquisador belga Simon-Pierre Gilson defendeu pelo Programa de Pós-Graduação em Arqueologia do Museu Nacional (PPGArq) sua tese de doutorado com a orientação da professora Andrea de Lessa Pinto. Eles também receberam uma menção honrosa no Prêmio Capes deste ano, e aqui você irá conhecer um pouco mais sobre essa pesquisa.

Esse estudo traz uma série de pontos novos para a ciência. Os sítios arqueológicos do tipo estudado geralmente têm restos humanos, mas no Rio do Meio não tem, então ele se debruçou a estudar a exceção para entender a regra. “Os primeiros estudos foram para entender a dinâmica de ocupação de todo o território para esses grupos, e percebemos que era um local de processamento do resultado da pesca. A partir da datação, conseguimos fazer um comparativo com os sítios arqueológicos das redondezas e demonstrar a temporalidade da longa ocupação, mesmo ali tendo somente uns 80 centímetros de material embaixo da terra, porque se trata de um sítio raso”, resume Simon-Pierre.

Nos passos seguintes, os pesquisadores focaram nos restos de animais, analisando os diferentes elementos, e conseguiram demonstrar que a região explorada pelos grupos que viveram no assentamento Rio do Meio estava localizada de fato na região norte de Florianópolis. Ao aprofundar os estudos sobre os tubarões, observaram, a partir de análises em parceria com um pesquisador da área de biologia, que no passado existiram tubarões-brancos se alimentando na baía e houve uma mudança ecológica ao longo da exploração industrial, por isso eles não existem mais ali hoje. “Conseguimos fazer uma integração ecossistêmica, digamos assim, dos grupos humanos pensando que eles se instalavam lá de forma continua com uma intensificação durante uma estação. O tipo de resto de peixe mais encontrado ali no sítio arqueológico foi a corvina, e seus cardumes gigantes atraíam tanto os tubarões quanto os humanos”, explica.

Foi constatado a partir desses estudos que os tubarões representavam 50% do consumo de quem habitou o local, sendo esses tubarões ainda muito jovens. “Conseguimos demonstrar também que eram usadas partes de tubarões como ferramentas, trabalhadas para cortar, raspar ou até mesmo para serem usadas em pontas de flechas por grupos de pescadores-caçadores-coletores. Em uma das etapas do trabalho, nos perguntamos como aqueles dentes eram retirados das arcada, então percebemos, em estudos experimentais, que eles usavam a técnica de aquecimento dentro de água ou em contato direto com as chamas. Foi feito e demonstrado das duas formas nesse estudo. Esse conjunto de conhecimentos está gerando uma repercussão mundial, e estamos recebendo uma série de mensagens de pesquisadores de diferentes locais”, relata Simon-Pierre.

“Além de curtir os resultados científicos obtidos nessa pesquisa sobre o modo de vida dos grupos pré-coloniais do litoral sul do Brasil, foi importante pessoalmente aprender aqui no Brasil a olhar a arqueologia por outros pontos de vista, principalmente de forma descolonizada e colaborativa com os grupos indígenas. Isso é de grande riqueza e surgiu por meio do contato com os pesquisadores daqui. Receber essa menção honrosa no Prêmio da Capes, me deixou surpreso e feliz, sendo um reconhecimento pelo trabalho desenvolvido junto com a professora Andrea de Lessa Pinto do Museu Nacional, que confiou em mim, assim como a Universidade de Montreal que me recebeu para realizar parte dos estudos. Ao mesmo tempo, me dá uma sensação de estar recompensando de certa forma o investimento do Brasil ao me conceder a bolsa de estudos”, comemora Simon.

“O reconhecimento desse trabalho, na área de arqueologia, é particularmente importante neste momento em que as Humanidades estão sendo penalizadas com expressivo corte de verbas nas pós-graduações e nos fomentos à pesquisa. Conhecer a história daqueles nos precederam é um direito de todos e contribui para a valorização e a preservação dos bens culturais”, destaca a professora Andrea de Lessa Pinto.

 

Saiba mais: 

Acesse o artigo “Arqueozoologia do sítio Rio do Meio (SC): discutindo estilo de vida de pescadores-caçadores-coletores através de uma abordagem ecossistêmica” na Revista de Arqueologia da SAB.

 

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