Preciosos registros de manuscritos e obras clássicas da Biblioteca Central do Museu Nacional/UFRJ acabam de ganhar um catálogo impresso. Eles representam o patrimônio histórico-cultural acumulado ao longo de nossa história, incluindo a “Torá” de idos de 1300 que pertenceu a D. Pedro II e o incunábulo “Historia Naturale”, de 1481, do acervo da Imperatriz Leopoldina. Está disponível também em versão digital e gratuita.
Com autoria de Leandra Pereira, Mariângela Menezes e Vânia Rocha,o “Catálogo de Obras Raras do Museu Nacional/UFRJ” foi lançado em abril no Auditório Pedro Calmon, no Palácio Universitário Praia Vermelha.
A cerimônia foi conduzida por Eliane Frenkel e a mesa contou com a presença do diretor do Museu Nacional/UFRJ, Alexander Kellner, e da coordenadora do Sistema de Bibliotecas e Informação (SiBI) da UFRJ, Paula Melo.
Na ocasião, a especialista em obras raras Ana Virgínia Pinheiro ministrou a palestra “Os Cimélios Bibliográficos da Biblioteca do Museu Nacional”.
O Harpia pediu para as autoras nos contarem como se sentem ao publicar o primeiro catálogo de obras raras impresso e nos apresentar duas publicações.
Leandra Pereira
“Sinto que estamos na direção certa. Reconhecendo o trabalho das pessoas que vieram antes de nós, e viabilizaram o registro e a recuperação dos itens da Coleção de Obras Raras por meio da Base Minerva, catálogo on-line dos acervos das bibliotecas da UFRJ. Quando falo na direção certa, para mim, o Catálogo cumpre uma das inúmeras funções do Museu Nacional, que é a de proteger o seu precioso acervo ao divulgar à sociedade itens das suas coleções. E, sem esquecer, que foi organizado para ser um instrumento de pesquisa para pesquisadores de História Natural, Antropológicas, das Ciências e do Livro.
A obra rara que eu mais gosto é a da Maria Sibylla Merian, que é o registro 36 do Catálogo, por conta da beleza das ilustrações e da representação imagética por trás do conceito metamorfose. Mas, é uma escolha totalmente pessoal. Revendo o catálogo, me fez lembrar do Novus Orbis de Laet, que está no registro 13 do Catálogo, que está digitalizado na Biblioteca Digital de Obras Raras do Museu Nacional. É uma obra do período das grandes navegações holandesas que traz o conhecimento geográfico da época e a história natural da América. Como não sou bióloga, e livros sobre as grandes viagens e viajantes sempre mexem com o meu imaginário e me trazem recordações de filmes que assisti quando criança. Trago também um terceiro livro, ‘O Brazil e a Oceania’, que está no registro 754 do Catálogo. Esse último escolhi por causa do Gonçalves Dias, escritor que conheci no ensino médio, nas aulas de Literatura, como um dos representantes do Romantismo no Brasil, e que aprendi quando vim trabalhar no Museu, que era responsável pela seção de Etnografia da Comissão Científica de Exploração.”
Mariângela Menezes
“Da mesma forma que as coleções constituem o âmago de um museu, segundo Clifton Waller Barrett, a área de coleções raras é o coração da biblioteca. Portanto, reunir cada uma dessas obras que representam um pedaço da história e da cultura mundial em um primeiro catálogo disponibilizado ao público, foi um momento de completude da minha interação com o acervo desta Casa que tanto amamos. Lembro que a biblioteca está finalizando um processo de ampliação e modernização com o apoio do BNDES e Bradesco, visando sua atualização e popularização do patrimônio histórico, cultural e pedagógico. É necessário que a biblioteca confirme seu status social na nova realidade da sociedade transformada. Acredito que esse é o caminho que estamos trilhando.
Indico duas publicações. A ‘Die Infusionsthierchen als vollkommene Organismen: ein Blick in das tiefere organische Leben der Natur’ foi a primeira obra rara que consultei (in folio– 47 cm)i, quando iniciei o meu curso de mestrado. O livro, em alemão, trata de infusórios (protistas de águas doces) e inclui pranchas coloridas maravilhosas. O outro é o “Icones selectae plantarum cryptogamicarum, quas in itinere per brasiliam annis MDCCCXVII-MDCCCXX” de Karl Friedrich Philipp von Martius. Possui pranchas também coloridas e lindas nas quais Martius apresenta espécies de plantas criptogâmicas (algas, fungos, liquens, musgos e samambaias) selecionadas registradas no Brasil, no RJ, SP, PA, AM, BA, dentre outros. Está escrito em latim”.
Vania Rocha
“Gratidão é a palavra que resume este momento. Agradeço em primeiro lugar a Deus que sem Ele nada seria possível, depois a minha Chefe Leandra que me convidou para esta ideia brilhante e confiou que eu seria capaz de ajudar nesta grande empreitada, agradeço ainda a Professora Mariângela que é um braço forte no incentivo ao cuidado com nosso acervo, por fim e não menos importante a todos da Biblioteca. Esta obra nos trouxe a consciência de que a Biblioteca possui um acervo riquíssimo de Obras Raras e mostra que o Museu Nacional continua muito vivo. Este catálogo nos traz o testemunho de posse além de ser um recurso de preservação.
Gostaria de citar apenas uma, a que me fez efetivamente “ligada” às obras raras, pois foi a primeira que fiz o processamento técnico, além de se tratar da obra mais antiga da Biblioteca. Quando recebemos a ‘Torá’, a chefe da Biblioteca, Leandra Pereira, me confiou a responsabilidade de estudar e incluir a obra na Base Minerva. E, para mim, foi uma série de surpresas. O suporte que é feito em pergaminho, sendo um material de origem animal com seu formato em rolos. É uma obra belíssima!!! Na época recebemos a visita e ajuda do Rabino Henrique Beuthner, que relatou vários fatos interessantes sobre a ‘Torá’, mostrando a importância aos judeus e as religiões que creem na Bíblia. Para mim o ponto alto foi o trecho que está os 10 Mandamentos, pois possui uma diagramação especial. Pensar que esta obra fez parte do acervo Imperial nos traz grande emoção pois agrega “valor” ao acervo de tal modo que se tornou a nossa “menina dos olhos”.
Saiba mais:
Acesse a versão digital do “Catálogo de Obras Raras do Museu Nacional/UFRJ”.