Qual é a comemoração de aniversário do Museu Nacional/UFRJ que mais marcou a sua vida? Neste mês em que completamos 205 anos, buscamos te levar a uma viagem pelo tempo, especialmente a partir de 2007, quando iniciamos as atividades voltadas para o grande público na Quinta da Boa Vista.
Você irá conhecer nesta matéria do Harpia relatos do corpo social e também a origem dessas celebrações. Conversamos com a jornalista e pesquisadora Fernanda Guedes, que fundou o Núcleo de Comunicação e Eventos do Museu Nacional/UFRJ em 2008, tendo sido coordenadora entre 2012 e 2020. Ela informa que ela e a Eliane Frenkel tinham dois objetivos principais quando iniciaram a organização desse tipo de comemoração na Quinta da Boa Vista.
O primeiro era unir a comunidade do Museu em torno de um evento com diferentes setores e laboratórios em prol da divulgação das atividades que são desenvolvidas em cada um deles. E, assim, divulgar ao grande público esse outro lado da instituição, que acabava não sendo tão conhecido. Os visitantes conheciam as exposições, mas, muitas vezes, não faziam ideia de todo o trabalho de ensino, pesquisa e extensão que é desenvolvido pelo nosso corpo social.
“Essas celebrações acabaram virando um dos produtos de nosso projeto de extensão ‘Ciência, História e Cultura: o Museu na Quinta da Boa Vista’, que buscava realizar ações de divulgação do Museu junto a seus diversos públicos. Dentro de nossa estratégia de comunicação, procurávamos realizar atividades que fossem voltadas especialmente para o público do parque, majoritariamente de classes populares, proporcionando acesso e diálogo com camadas que nem sempre são consideradas protagonistas de ações de ciência e cultura”, explica a servidora Fernanda Guedes.
Ela informa que a intenção, na comunicação interna, era motivar e integrar nossos servidores, estudantes e terceirizados, sempre tão engajados nessas ações. “Era uma forma, muitas vezes, das pessoas se conhecerem, descobrir o trabalho de colegas, ter contato direto com o público – o que para boa parte não era comum –, e, claro, participarem de uma atividade que fosse prazerosa para eles”, completa.
Para Fernanda, rememorar as comemorações do aniversário do Museu a faz lembrar do tamanho que nossa instituição tem. “Não só pelo seu acervo ou história, claro, mas pelo material humano que, de fato, faz do Museu Nacional/UFRJ o que ele é hoje e o que será para as futuras gerações”, avalia Fernanda. Ela ressalta que o aniversário do Museu é uma atividade cooperativa, em que cada elemento é fundamental para seu sucesso.
“Nas celebrações que, na verdade, envolviam trabalho árduo e planejamento esmeroso, víamos toda a garra dos colegas da Oficina e Manutenção que eram responsáveis pela estrutura física do evento; o cuidado das equipes dos laboratórios, pensando na melhor forma de receber o público; o envolvimento de toda administração, para garantir que tudo desse certo; as equipes de limpeza e segurança dando o seu melhor; estudantes e estagiários, muitos deles ainda começando na carreira acadêmica, ao lado de pesquisadores já estabelecidos, mas tão disponíveis a fazer com que cada ano fosse melhor do que o anterior”, enumera. “E, ao final de cada dia, o brilho nos olhos do público, revelando encantamento sobre algo que para nós, talvez, fosse usual, trazia todo o afago e satisfação que curavam qualquer cansaço”, conclui Fernanda Guedes.
Conheça relatos de algumas pessoas do corpo social que participam há anos:
Carlos Augusto Caetano, da equipe de taxidermia
“Os eventos realizados no aniversário do Museu Nacional foram bem interessantes, reuniu profissionais do setor de Taxidermia além de alunos. As exposições eram montadas na Alameda das Sapucaias onde tínhamos a liberdade para expor animais taxidermizados e equipamentos utilizados no âmbito da taxidermia, além de um folder explicativo com o título “O Que é Taxidermia?”. Na ocasião observamos toda a comunidade do Museu trabalhando em prol do mesmo objetivo, gerando um ambiente saudável e estimulante. Durante a exposição tivemos que nos relacionar com o grande público, com isso passávamos horas respondendo a todo tipo de questionamento sobre as peças taxidermizadas como: “É de verdade?, “Está empanado?“, assim seguia as horas divertidas que passávamos no meio da Quinta da Boa Vista, falando sobre técnicas de preparação, finalidades da área de pesquisas e exposições. No final do dia, saíamos com a sensação maravilhosa de revelar ao público algo que estava restrito aos bastidores do Museu”.
Fernanda Guedes, jornalista que fundou o Núcleo de Comunicação e Eventos do Museu Nacional/UFRJ
“Difícil dizer qual aniversário é o mais marcante, porque cada um tinha um significado, um mote diferente e, claro, sempre um desafio. Mas escolheria dois, o primeiro, de 189 anos, que realizamos ainda no gramado da Quinta, que foi o começo de tudo e quando aprendemos muito, e o dos 200 anos, que representou um grande desafio para sua realização e que acabou sendo o último antes do incêndio. Este evento que já era tão especial por representar o bicentenário da instituição, hoje tem um valor afetivo enorme, por ser nossa última grande ação pública antes da tragédia que vivemos em 2 de setembro de 2018. É impossível escolher um único momento que tenha me marcado. Lembrando de centenas, vou falar de três. Ver as filas enormes de estudantes na frente do Museu, das tendas, ávidos pelas atividades, era, sem dúvida, uma emoção revigorante a cada ano. A sensação de cada primeiro dia de evento, aquela adrenalina pra tudo dar certo, chegar bem cedinho na Quinta para os últimos ajustes e ver as pessoas chegando para trabalhar, felizes, satisfeitas pelo que estavam realizando (afinal, era um evento absolutamente cooperativo) já trazia a certeza de que estávamos no caminho certo. Por último, quando reabrimos a sala da Baleia, para a cerimônia dos 200 anos, depois de tantos anos fechada, Eliane e eu sabíamos que seria um grande desafio (e de fato foi), mas o momento em que as luzes se acenderam, iluminando o esqueleto, tudo fez sentido. Uma pena que tenha sido, por fim, uma grande despedida de um espaço suntuoso (de muitos que o palácio possuía)”.
Fernando Moraes, professor colaborador voluntário do MN/UFRJ
“Participar dos aniversários do Museu Nacional/UFRJ tem sido quase que uma rotina anual desde 2007, intercalando palestras, coordenações de estandes e atividades avulsas. Com isso, colecionei certificados, camisas e colaborações científicas que guardo com orgulho. Foram atividades ligadas ao Laboratório de Porifera, ao Projeto Ilhas do Rio e à Seção de Assistência ao Ensino. Ver uma senhora cega ao lado da televisão na qual exibíamos um documentário que produzimos no museu foi um dos momentos mais marcantes. Ao perceber que ela escutava atentamente a locução sobre os mergulhos no Arquipélago de São Pedro e São Paulo, um dos locais mais inóspitos e isolados do mundo, ofereci a ela uma cadeira e a senhora ficou vidrada até o final do vídeo. Ela foi quem passou mais tempo no estande e, ali, percebi o alcance do audiovisual à popularização da ciência. Outro momento marcante e inovador foi a roda de capoeira que fizemos nos 200 anos do Museu, agregando arte, cultura e ciência através do rico acervo da SAE”.
Marcelo Britto, professor associado do Departamento de Vertebrados, atua no Setor de Ictiologia
“Desde 2009, o Setor de Ictiologia participa do aniversário do Museu Nacional. São apresentadas considerações sobre a diversidade dos peixes a partir de material do nosso acervo, bem como atividades de troca com o público, como por exemplo, o chamado “código de barras” para o reconhecimento de espécies. O que sempre chamou atenção é o interesse das diferentes pessoas em interagir conosco e a contemplação sobre o material apresentado. Em linhas gerais, é bem marcante a reação das pessoas quando explicamos que estamos apresentando peixes de verdade que estão preservados, e não peças fabricadas. Para muitas, é como se algo abrisse na mente! E sempre vem com uma reação de alegria ou surpresa. Isso ocorreu em quase todas as vezes, mas podemos destacar o ano de 2017, nos 199 anos, realizado onde era o auditório do palácio, e na tenda ao longo da alameda principal da Quinta em 2018”.
Murilo Bastos, do Setor de Antropologia Biológica do Departamento de Antropologia
“Participo de eventos de celebração do aniversário do Museu Nacional desde 2007 e tive a oportunidade de presenciar muitos momentos marcantes com o público. Como trabalho com remanescentes humanos, ou seja, ossos, costumo ouvir do público muitos comentários relacionados com medo de esqueleto e associação com morte e coisas assim. No entanto, com apenas poucas palavras nós conseguimos prender a atenção do público para curiosidades sobre o nosso corpo e como podemos estudar ossos para contar o nosso passado. É difícil identificar apenas um momento que me marcou, mas foi muito impactante e emocionante para mim a primeira vez que pude orientar uma pessoa portadora de deficiência visual a tocar e “conhecer” a reconstrução facial da Luzia. Além deste momento, as caixas de escavações de esqueletos arqueológicos sempre trouxeram uma imensa alegria. Ver as crianças desvendando um esqueleto e identificando os ossos é sempre uma diversão”.
Sheila Nicolas Villas Boas, técnica em Assuntos Educacionais na Seção de Assistência ao Ensino (SAE)
“A edição dos 201 anos do Museu Nacional foi especial. Como de costume, a Seção de Assistência ao Ensino (SAE) elaborou uma mostra a partir de sua Coleção Didático-Científica para Empréstimo, cuja diversidade de itens e a possibilidade do toque, sempre faz um enorme sucesso. Expusemos exemplares que chamou a atenção de uma visitante especial, a professora de Biologia, Kátia. Ela disse que viajou no tempo e que os itens expostos fizeram-na lembrar das aulas dos educadores Victor Stawiarski e Solon Leontisnis. O primeiro atuou na SAE entre os anos de 1940 e 1970, e o outro entre os anos de 1950 e 1990. A partir desse encontro, organizamos a ida da nossa Coleção até a escola da professora, e, ao se aposentar, ela decidiu doar para a SAE os itens que colecionou ao longo de sua trajetória profissional. Tudo isso remete à importância do trabalho realizado pelos educadores museais em colaboração com as escolas. Ele é tão poderoso que atravessa décadas vivo nas lembranças daqueles que cativamos”.
Gostou dessa viagem no tempo? Esperamos que você tenha tido suas melhores lembranças sobre os aniversários do nosso museu de história natural e antropologia ao ler este conteúdo!