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Grupo de Trabalho Animais Comunitários: em busca de soluções responsáveis

A fofura da Betina. Foto: Diogo Vasconcellos (MN/UFRJ)

O abandono de animais é crime. Entretanto, a Organização Mundial da Saúde estima que só no Brasil existam mais de 30 milhões de animais abandonados. Como lidar com os animais recém-abandonados e os animais comunitários que vivem nas áreas do Museu Nacional/UFRJ? Buscando soluções responsáveis, foi criado o Grupo de Trabalho Animais Comunitários, em vigor a partir da publicação da Portaria Nº 12.077, em dezembro de 2024. É importante ressaltar que eles não recebem animais, sendo essencial a conscientização de todos sobre isso.

A professora Renata Stopiglia coordena o Grupo de Trabalho (GT) e informa que ele vem como uma institucionalização do Projeto Piloto Bigodes do Imperador, que começou espontaneamente, de forma voluntária, coordenada e plural com um grupo de pessoas preocupadas com a questão, especialmente dos gatos, pelo crescimento populacional exponencial. Naturalmente, ele foi agregando docentes, técnicos, prestadores terceirizados e estudantes.

Aproximadamente 40 pessoas estão envolvidas e seguem os protocolos e as recomendações da OMS, do Código Municipal de Direito e Bem-estar Animal do Município do Rio de Janeiro e de outras instituições que regulamentam o tema. Buscam entender a pauta e propor ações para minimizar a presença desses animais nas áreas do Museu Nacional/UFRJ. Para isso, os integrantes estudaram a legislação vigente e pensaram em como aprimorar metodologias para atuar com a captura, esterilização, tratamento e preferencialmente a adoção. Alguns animais foram castrados, mas precisaram ser devolvidos ao seu local de origem, porque são ferais ou não conseguirem adoção. Contam com lares temporários ou hospedagens e eles têm conseguido sucesso com as adoções por meio de parcerias. Somente do Horto Botânico, mais de 80 animais não precisaram ser devolvidos após a castração. Mas o GT precisa de apoio para que sejam evitadas ao máximo o abandono de mais animais nos campi do Museu.

Todo tipo de colaboração é bem-vinda, seja tempo, itens para venda no bazar solidário que promovem, sobras de medicamentos e ração, ou qualquer quantia. Eles têm uma conta bancária dedicada e fazem a prestação de contas continuamente. O lar temporário e o apadrinhamento também são formas de contribuições essenciais. 

Com a coordenação da professora do Departamento de Vertebrados, Renata Stopiglia, ele é composto na Portaria Nº 12.077 pelos servidores docentes e técnicos: Andrea Fernandes Costa, Carla Barros, Cláudia Rodrigues de Carvalho, Edina Martins, Lilian Cardoso, Luciana de Carvalho, Marco Aurélio Caldas, Patrícia do Desterro e Renata Gabrielle Santos. E contam com alguns voluntários. Durante as comemorações de 207 anos do Museu Nacional/UFRJ, eles apresentaram a iniciativa ao público. 

Informações ao público nos 207 anos do Museu Nacional, na Alameda das Sapucaias. Foto: Diogo Vasconcellos (MN/UFRJ)

 

Este conteúdo foi redigido a partir de resumo das conversas com a professora Renata Stopiglia e com as técnicas Carla Barros e Lilian Cardoso. Se você também deseja ser um voluntário ou contribuir de outras formas, entre em contato com eles: gtanimais@mn.ufrj.br.

 

Inspire-se e ajude também

 

As irmãs Sofia e Luísa Costa dão lar temporário para os gatos resgatados no Museu e fazem um álbum para recordar

Luísa e Sofia, sobrinhas da Andrea Costa, com o álbum com os gatos filhotes resgatados no Museu que criaram com as recordações

“Eu me sinto feliz, acho divertido porque eles são muito fofos e muito carinhosos. Adoro brincar com eles. Quando eu vejo o álbum, eu fico feliz e com saudade dos gatinhos, porque foram dias muito legais. Se eles não ficassem aqui, poderiam ter uma vida ruim. Quando eles saem daqui, encontram seus donos e se sentem muito felizes. Todos eu tive uma relação especial, mas o Vini foi o primeiro e ele gostava muito de mim”, Sofia Costa.

“Amo eles. Eles brincam, fazem cocô, são muito legais. Gosto de ver o álbum porque tem as fotos, tem as patas e até os nomes e as datas que eles ficaram aqui. Eles são lindos e gatos!”, Luísa Costa.

 

Andrea Costa, da Seção de Assistência ao Ensino (SAE), e o Fidel

 

“Eu adotei o meu gato mais novo, o Fidel, com o Bigodes do Imperador, pois esse projeto é ao mesmo tempo um alento e um espaço de luta para todas as pessoas que, assim como eu, amam os seres viventes e sentem a necessidade de agir diante do estado de abandono em que os animais se encontram. Em 2022, Fidel vivia no Horto do Museu Nacional e precisou de cuidados veterinários após machucar uma pata. Foi necessário um lar temporário para que ele se recuperasse com segurança. Eu o recebi em casa, onde já cuidava de três outros gatos resgatados: Bel, Che e Nino. A convivência breve bastou para que decidisse adotar o Fidel e a sensação foi a de que agora sim a turminha estava completa. Bel foi resgatada em 2017 no Jardim das Princesas do Museu Nacional; Che e Nino vieram de um projeto semelhante ao Bigodes, da Fiocruz. Fidel e Che formaram uma dupla “revolucionária” até a morte do Che no ano passado, que deixou uma saudade enorme e lindas lembranças. O Fidel tem me desafiado a ultrapassar limites e a desenvolver novas habilidades. Pouco depois de sua chegada, foi diagnosticado com esporotricose, uma doença transmissível a humanos, exigindo isolamento, medicação diária e muitos cuidados por 90 dias. Mais recentemente, enfrentamos a Peritonite Infecciosa Felina (PIF), uma condição grave que até há pouco era considerada sem cura. Após um tratamento intenso de 84 dias, ele está saudável, bonito e cheio de vida. Essa jornada exigiu muito emocional, logístico e financeiramente, mas reafirma, dia após dia, meu compromisso com a vida em todas as suas formas — algo que considero profundamente valioso. Faço parte desse grupo de trabalho, formado majoritariamente por mulheres, porque o cuidado e o compromisso com a vida continuam recaindo, quase exclusivamente, sobre nós. Esse GT atua salvando a vida de animais abandonados, seja por meio de adoções, seja ao reconhecê-los como animais comunitários. Ao fazer isso, contribui também para melhorar a experiência de quem frequenta o Museu Nacional — ainda que muitos não percebam ou até rejeitem essa contribuição. Como afirma um pensamento amplamente difundido no campo dos museus e da Museologia: um museu que não está a serviço da vida, não serve para nada. Acredito profundamente que toda forma de vida importa, e entendo que esse GT tem papel fundamental na construção de uma atuação mais ética e responsável por parte do Museu Nacional”.

 

Diogo Vasconcellos, fotógrafo do Museu, e a Mel

“Eu e minha esposa Giselle tínhamos três gatinhas: Sansa, Arya e Nakia. Infelizmente Arya faleceu, devido a um problema renal, e desde então ficou um vazio muito grande lá em casa. Comigo em especial, porque Arya era meu xodozinho, muito grudada a mim. A gente sempre falava em adotar outra gatinha (afinal são todas fêmeas) e daí vi nos grupos do Museu sobre a Martha, uma gatinha laranja que havia sido abandonada recentemente no Museu. Ela teve filhotes com 6 meses, os filhotes foram adotados e ela ficou sozinha – geralmente as pessoas acabam por adotar mais filhotes menores, não gatos quase adultos. E era muito fofa, humanizada. Fomos conhecer e nos apaixonamos. Trocamos o nome dela pra Mel, pela cor e por ela ser muito doce. É grudada comigo o tempo todo, nunca vi uma gatinha tão afetuosa, e anima demais nossos dias. Foi a melhor decisão que poderíamos ter feito! Nesse momento em que escrevo ela está no meu colo, inclusive. Infelizmente a Quinta da Boa Vista, por ser um dos maiores parques públicos do Rio, acaba sendo um lugar com muito abandono de animais. E projetos como o GT e o Bigodes do Imperador são extremamente necessários, e devem ser muito valorizados! Porque ajudam tanto no bem-estar dos bichinhos, como na conscientização da comunidade e diminuição do abandono, levando eles a lares em que possam receber o amor que merecem.”

 

Luciana Carvalho e a gata Dionísia

“Acho que foi a Dionísia que me escolheu. A minha história com ela começa em um dia em que fui ao Anexo Alípio de Miranda Ribeiro, ao lado do palácio, para pegar alguns materiais no Laboratório de Preparação de Vertebrados Fósseis, que na época ainda estava instalado lá. Quando estava saindo essa gatinha veio nos acompanhando e miando com insistência. Quando me virei para ver o que ela queria, percebi que estava com a lateral do rosto muito inchada. Como já participava do grupo Bigodes do Imperador, postei a foto para ver se poderíamos ajudá-la. Prontamente, a Renata Stopiglia, professora do DV, se prontificou a recolhê-la para levar a um veterinário. Na época estava com um abcesso, tendo que extrair alguns dentes. Foi um momento tenso, porque era uma infecção no rosto e também por já ter uma idade avançada. O tratamento deu certo e após isso, me comprometi com recursos financeiros para suas estadias e tratamentos. Infelizmente, não tenho como adotá-la, então tento ajudar da melhor forma que posso. Poder estar associada ao Bigodes do Imperador me deixa muito feliz, pois é um grupo formado por pessoas de grande coração e carinho pelos animais. Sempre tive animais de estimação em casa, e ver esse grupo no Museu Nacional e poder participar dele me dá esperança de ver um futuro melhor para essas criaturas, pelo menos àquelas que estão ao nosso alcance. Se cada um fizer um pouquinho, conseguiremos mudar para melhor a história dos abandonos em nossa instituição.”

 

Tyelli Ramos e o Pedrinho

“Comecei a frequentar o Museu em 2017 e uma das primeiras coisas que me chamaram a atenção foi a quantidade de animais que vivem nas áreas do MN e Quinta da Boa Vista. Muitos destes animais nasceram e/ou estão vivendo há muitos anos nessa realidade, sem a oportunidade de conhecerem um lar seguro e amoroso. Tenho acompanhado os casos de abandono nos últimos anos e é muito difícil ver animais dóceis, que claramente estavam sob tutela de alguém, serem largados à própria sorte. O Pedro Afonso, mais conhecido como Pedrinho, é um desses casos. Ele apareceu no horto em meados de janeiro e desde o primeiro contato, mostrou ser um gatinho muito carinhoso e ronronador. Pedrinho adora estar na companhia de humanos e é muito bom tê-lo como alívio durante as pausas do trabalho. É graças ao compromisso e trabalho do GT que animais como o Pedrinho, e outros tantos que vivem nas dependências do MN, têm a chance de encontrarem condições dignas para viver. O Pedro Afonso é um macho, castrado, com aproximadamente 2 anos, FIV positivo. Ficarei muito feliz se ele encontrar um lar”.

 

Alexia Granado, técnica de laboratório do setor de Ornitologia, no Departamento de Vertebrados

“Eu ajudo com o projeto do Bigodes quando posso, incluindo pegar os gatos e levar e buscar na veterinária. Joaquim tinha sido abandonado fazia uma semana, e ele é gato bobo. Pense num gato bocó, destrambelhado. Jogaram ele no campus e o pessoal do projeto ficou preocupado por causa do cachorro que tem lá e podia pegar ele. Eu estava no dia que pegaram ele, ajudei a pegar, ele ficaria comigo depois. Quando fizeram o fiv/felv nele deu fiv positivo. Não tinham onde levar, eu já tinha dois gatos. Mas fiquei mesmo assim pq sabia q não teria outro lugar pra ele. Já veio sabendo que provavelmente ele não sairia da minha casa pq ninguém ia adotar um gato fiv, adulto, preto e branco. E assim ele ficou, não trocaria meu gato por nada. Joaquim é um gato parceiro, ele tá onde a gente tá, divertido, carinhoso, recebe a gente na porta e é super saudável mesmo sendo portador de fiv.”

  

Saiba mais:

Mais informações: gtanimais@mn.ufrj.br.

 

 

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