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Educação museal no espaço virtual: experiências no MN/UFRJ e no MAST

Como somos o primeiro museu e casa de ciência do Brasil, a educação museal no nosso país começou com a gente. Edgar Roquette-Pinto percebeu a importância de aprimorá-la, criando a Seção de Assistência ao Ensino (SAE), em outubro de 1927, já fazendo uso das tecnologias da época para melhorar a experiência do público e alcançar mais pessoas. Nesta edição, a educadora Andréa Costa destaca as experiências do Museu Nacional/UFRJ em educação museal on-line e a museóloga Cláudia Matos nos conta como está sendo o desenvolvimento das atividades da página MAST Educação, do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST). Ela, que é bolsista do Programa de Capacitação Institucional da Coordenação de Educação e Popularização da Ciência do MAST, e seus colegas se inspiraram principalmente no tipo de uso que as equipes da SAE e do Museu da Vida fazem das redes sociais. Conheça a seguir essas histórias conectadas:

“A SAE sempre usou as principais mídias de suas épocas para a educação museal”, Andrea Costa.

Andrea Costa educadora da SAE

Quais são os limites e as potencialidades da educação museal on-line? A internet é um ambiente amplo para experimentações e evoluções contínuas, e a SAE tem uma posição precursora com o uso da tecnologia desde sempre. Ela já nasce com sua dimensão de importância por Edgar Roquette-Pinto, que foi diretor do Museu Nacional entre 1926 e 1936, usando as mídias mais modernas de seu tempo para complementar as visitas escolares às exposições. Desenvolveu no MN, segundo a imprensa da época, a melhor cinemateca de filmes educativos da América do Sul. Enquanto boa parte dos museus precisou se reinventar diante do mundo virtual imposto pela pandemia de Covid-19, a equipe da SAE já tinha criado suas redes sociais em 2014 e há alguns anos promove a educação museal on-line.

“A SAE sempre usou as principais mídias de suas épocas para a educação museal. E renovamos esse compromisso do Roquette-Pinto, dia a dia, ocupando atualmente as redes sociais como espaços de educação museal on-line, estimulando a participação ativa do público para a construção coletiva de conhecimentos“, destaca a pesquisadora e educadora da SAE, Andréa Costa, que começou a trabalhar no Museu Nacional em 2011 e antes disso integrava a equipe do MAST. E ela completa: “Sem falar que isso nos possibilita que sejamos de fato nacional porque estamos tendo nas nossas atividades experiências com pessoas de diferentes estados. Isso dificilmente acontecia no museu geolocalizado”.

Andréa nos dá exemplos recentes: em julho, na atividade on-line Férias na Rede, foi alcançada uma criança do Mato Grosso. Já no Curso Descobrindo a Terra participam neste momento professores e licenciandos de diferentes lugares do Brasil. O estudante de licenciatura em Ciências Biológicas da USP, Heitor Fernandes Leme, juntamente com outros cinco colegas, fez um estágio curricular em formato remoto mesmo sem ter conhecido o Museu presencialmente. “Vi, no dia a dia, a valorização que a SAE dá para a experiência do público nas mediações on-line com as coleções didáticas e com o espaço do Museu em si, e também nas formas de buscar estreitar essa relação. É impressionante essa importância. Tenho um perfil de divulgação científica e já estou repensando como posso buscar um maior engajamento. Além disso, essa experiência abriu meu olhar para trabalhar em museus como mediador”, conta Heitor, que fez o estágio no primeiro semestre deste ano. Andréa ressalta que essas experiências práticas nos museus são importantes para a formação de educadores museais.

Perguntada sobre os três principais desafios da educação museal no espaço virtual, ela avalia que sejam a mediação com crianças pequenas e que já estão aprimorando as experiências, com estudantes de escolas públicas e o alcance de pessoas que não têm o hábito de visitar museus. Observamos que as mediações on-line chegam a outros estados, mas não alcançam as classes mais pobres ou menos escolarizadas. Não se trata necessariamente de falta de conexão com a internet. É importante que os museus encontrem formas de furar essa bolha, mudando a forma como se comunicam e quebrando a barreira econômica, inclusive em sua experiência geolocalizada. Eram as escolas públicas que mais levavam e despertavam o interesse das classes populares, que melhor retratam a realidade da população do Rio de Janeiro e que frequenta a Quinta da Boa Vista”, observa Andréa Costa, que em sua tese de doutorado pesquisou sobre a visitação pública ao Museu Nacional, do século XIX ao XXI.

É interessante informar também que, antes das redes sociais digitais, na década de 1940, os educadores da SAE resolveram criar uma revista para manter a comunicação com o público enquanto o Museu Nacional precisou ficar fechado alguns anos para uma grande obra. É essa “Revista do Museu Nacional” que a Andréa segura um dos exemplares na foto aqui para o Harpia. Hoje a SAE tem um projeto de mediação museal exclusivamente voltado ao fomento da participação e da coautoria dos públicos, por meio de posts nas redes, lives e do uso de plataforma de curadoria colaborativa. Conheça as atividades de educação museal online da SAE aqui.

“É importantíssimo que a educação museal ocupe seu espaço nas redes”, Claudia Matos.

Claudia Matos do MAST Educação

Quando chegou a pandemia de Covid-19, a bolsista do Programa de Capacitação Institucional do MAST, Claudia Matos, e seus colegas da Coordenação de Educação e Popularização da Ciência pensaram em como poderiam estabelecer contato com o público do Museu de Astronomia e Ciências Afins a partir da perspectiva da Educação On-line. “Por já acompanhar trabalhos e pesquisas realizadas sobre mediação online, entendemos que deveríamos ter uma rede social que permitisse ter acesso completo à plataforma para de fato estabelecer uma comunicação dialógica com o público. Então, nossa equipe decidiu conversar com os pesquisadores e profissionais da área para estruturarmos um projeto e assim nasceu o MAST Educação”, destaca.

Sua equipe se reuniu com as jornalistas Renata Fontanetto e Juliane Gouveia responsáveis pelos conteúdos das redes do Museu da Vida, da Fiocruz. E também com a pesquisadora colaboradora do Museu Nacional, Frieda Marti, que abordou o conceito de educação museal online por ela desenvolvido com base no trabalho realizado nas redes da SAE, e que foi tema de sua tese de doutorado e de outras publicações (Acesso no final desta matéria).

A página no Facebook foi criada em setembro de 2020. “É importantíssimo que a educação museal ocupe seu espaço nas redes. Entendo o MAST Educação como um espaço de experimentação, onde observamos o que o público nos traz continuamente, além de adaptar nossas mediações e levando nossa experiência com acessibilidade. Temos o cuidado de descrever as imagens postadas ou pelo menos inserir legendas nos vídeos”, ressalta Claudia.

Da sua pesquisa sobre Instrumentos Científicos Históricos Claudia busca construir narrativas para fazer suas mediações online e a equipe analisa as respostas do público para criar novas postagens. “Quando publicamos um post sobre espectroscopia, vimos que estávamos com pouca interação, então melhoramos as abordagens seguintes contando, por exemplo, a história das chamadas computadoras de Harvard, que durante muitos anos trabalharam com análises de dados brutos de espectroscopia coletados por homens astrônomos”, destaca Cláudia. Ela explica que essas mulheres foram responsáveis por suas análises e sistematização que resultaram em avanços na astronomia e na astrofísica. Mas nas publicações dos trabalhos seus nomes não eram citados e cabendo a autoria das hipóteses que ajudaram a formular apenas aos homens. Um exemplo emblemático é o trabalho de Cecília Payne, que chegou à conclusão incrível sobre a composição química das estrelas, que são constituídas quase totalmente por hidrogênio e hélio. Mas a autoria só foi reconhecida anos mais tarde da defesa de seu trabalho. “Esse tipo de informação deu um retorno muito positivo de engajamento. As pessoas se sentiram envolvidas com a história e, inclusive, passaram a participar mais nas postagens seguintes”, observa Claudia Matos.

Quer se aprofundar nesses temas?

Compartilhamos aqui estudos recentes realizados a partir das experiências da SAE do Museu Nacional/UFRJ sobre as temáticas tratadas nesta matéria.

  • “A Educação Museal On-line: uma ciberpesquisa-formação na/com a Seção de Assistência ao Ensino (SAE) do Museu Nacional-UFRJ”, de Frieda Marti, doutora em Educação (PROPED/UERJ) e professora colaboradora na Seção de Assistência ao Ensino (SAE) do Museu Nacional/UFRJ. Acesse.
  • “Educação Museal na Cibercultura: o Uso de Memes no Projeto “Clube de Jovens Cientistas” da Seção de Assistência ao Ensino (SAE) do Museu Nacional/UFRJ”, de Frieda Marti, Andréa Costa e Aline Miranda. Disponível aqui.
  • “Revisitando os Museus na Pandemia: sobre Educação Museal On-line e Cibercultura”, de Frieda Marti e Andréa Costa. Acesse.

 

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