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Descoberto ‘berçário’ de pterossauros no Sul do Brasil

Pela primeira vez, foi descrito para a ciência um ‘berçário’ de pterossauros no nosso país. O estudo científico revelou uma predominância de filhotes desses répteis voadores, representando aproximadamente 80% dos indivíduos, com poucos adultos e nenhum idoso. Isso sugere um padrão migratório e um possível comportamento reprodutivo, semelhante ao observado em aves contemporâneas.

Paleoarte: Maurílio Oliveira (MN/UFRJ)

A descoberta sobre a espécie Caiuajara dobruskii foi possível a partir de observações e interpretações das análises paleohistológicas, que é o estudo microscópico da composição dos ossos fossilizados. “Conseguimos identificar os estágios ontogenéticos dos ossos com precisão, confirmando a predominância de indivíduos juvenis na amostragem, sendo uma informação que não havia sido descrita anteriormente no Brasil. Embora sejam raros, registros semelhantes também foram encontrados na China e na Argentina”, explica o primeiro autor do estudo que acaba de ser publicado na “Historical Biology”, Esaú Victor de Araújo. O artigo foi um produto de seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Zoologia (PPGZoo) do Museu Nacional/UFRJ. Assinam também o artigo seus orientadores, os paleontólogos Alexander Kellner e Juliana Sayão, assim como pesquisadores da Universidade Regional do Cariri (URCA), do Ceará, e da Universidade do Contestado (UnC), de Santa Catarina. Atualmente, Esaú está no doutorado.

A presença de pterossauros foi identificada em 2014, nesse sítio paleontológico localizado no município de Cruzeiro do Oeste, no interior do Paraná, sendo a primeira vez que ocorreu a descrição desses répteis fora do Nordeste do Brasil. Mas somente nesse estudo publicado em maio de 2023 foi analisada a idade de dezoito indivíduos de Caiuajara dobruskii, a partir das análises de 28 lâminas de ossos. Esse pterossauro é da família Tapejaridae, pertencendo ao período do Cretáceo Superior, há aproximadamente 64 milhões de anos.

O doutorando Esaú Victor de Araújo no Museu Nacional/UFRJ. Créditos: Diogo Vasconcellos (MN/UFRJ)

Resumidamente, essa pesquisa contribuiu para ampliar o conhecimento sobre os pterossauros encontrados no Brasil, revelando detalhes sobre seu padrão reprodutivo, migração e estágios de desenvolvimento. Esaú explica que a análise histológica desempenhou um papel fundamental na obtenção dessas informações e a comparação com espécies atuais permitiu estabelecer padrões de comportamento.

Como era o pterossauro Caiuajara dobruskii?

De pequeno porte, o Caiuajara dobruskii era um pterossauro com uma envergadura que podia variar entre 0,65m e 2,35m. Ele viveu durante o período Cretáceo, há aproximadamente 64,5 e 70 milhões de anos.

Do ‘acaso’ aos estudos premiados: conheça mais sobre o Esaú

Como o Harpia é um boletim interno, buscamos saber mais sobre o início do doutorando Esaú Victor de Araújo nas áreas da Paleontologia e Paleohistologia. Ele nos contou que, quando era estudante de Licenciatura em Ciências Biológicas na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), teve sua primeira aula com a professora Juliana Sayão, no período que ela trabalhou lá. Ele tinha acabado de ser contemplado com a Bolsa de Incentivo Acadêmico (BIA) da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (FACEPE), em 2015, e a convidou para ser sua orientadora.

Desde a graduação, desenvolve pesquisas com a professora Juliana Sayão

Desde então, desenvolveu estudos osteohistológicos com distintos vertebrados fósseis, como os pterossauros e os crocodilianos. Como aluno bolsista do Programa de Iniciação Científica (PIBIC), recebeu por sua pesquisa o Prêmio Ricardo Ferreira ao Talento Jovem Cientista (FACEPE), em 2019.


Com a professora Marina Bento, quando recebeu o Certificado Prêmio Carlos de Paula Couto como 1º colocado de pós-graduação, durante o Simpósio Brasileiro de Paleontologia de Vertebrados

 

Já nesse início ele quis estudar no Museu Nacional/UFRJ. Em 2020, foi aprovado no processo seletivo e iniciou no PPGZoo, com a orientação do professor Alexander Kellner e a co-orientação de Juliana Sayão. Realizou a tese de mestrado descrevendo o padrão osteohistológico, ontogenético e fisiológico do pterossauro do Cretáceo Superior, Caiuajara dobruskii. Como produto final, publicou esse artigo que é tema desta matéria do Harpia.

No doutorado, Esaú está desenvolvendo a tese em paleohistologia e paleofisiologia de pterossauros também do Cretáceo Superior.  O foco é inferir e esclarecer as estratégias de regulação térmica do grupo Pterosauria. Apresentando os resultados preliminares dos estudos de sua tese, foi premiado no XII Simpósio Brasileiro de Paleontologia de Vertebrados em 1º lugar, com o prêmio Carlos de Paula Couto.

Ele é integrante do grupo de pesquisa do projeto Paleoantar. Estabelece relações interinstitucionais fazendo parte do grupo de pesquisa Paleobiologia e Paleogeografia do Gondwana Sul: interrelações entre Antártica e América do Sul e Paleontologia das Bacias Interiores do Nordeste do Brasil – Universidade Regional do Cariri (URCA). Além disso, é colaborador em projetos de extensão universitária e de divulgação científica da UFPE.

 

Saiba mais:

O artigo científico está publicado na “Historical Biology” com o título “Osteohistological characterization and ontogeny of Caiuajara dobruskii (Pterosauria, Pterodactyloidea, Tapejaridae)”. Acesse.

 

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