Na sexta-feira, dia 25 de novembro do corrente ano, conseguimos, enfim, depositar a primeira Cápsula do Tempo do Museu Nacional/UFRJ. Curiosamente, esse tipo de ação é mais comum do que se pensa e muitas instituições e organizações – do presente e do passado-, têm se preocupado com a preservação de informações e objetos que possam ser úteis para gerações futuras. O ato de juntar e armazenar esse tipo de material em um recipiente e depois selá-lo e enterrá-lo para que não sofra interferência humana (o que nunca pode ser garantido), geralmente está vinculado a datas significativas para o país ou a instituição.
No caso do Museu Nacional/UFRJ, essa proposta nasceu do fato de já se ter em frente ao Paço de São Cristóvão, sede principal da instituição, uma Cápsula do Tempo que havia sido preparada em 1972, no tempo da ditadura, visando as comemorações dos 150 anos de Independência do Brasil. Na época, a proposta era que aquela urna, formada de acrílico e latão forrada de uma substância antimagnética, segundo artigos de jornais da época, apresentasse uma espécie de síntese do que estava ocorrendo no país no campo social, político e econômico. Havia, inclusive, uma gravação realizada em um dos principais programas televisivos daquele tempo – Flávio Cavalcanti da TV Tupi -, com o tema “A Herança de uma Geração – Brasil 2022“, gravado em janeiro de 1973.
Aliás, a própria Cápsula foi selada em 07 de janeiro de 1973, sendo depositada alguns dias depois – e não no ano de 1972, como poderia se supor. Consta que nessa cápsula, além da gravação do citado programa, estão depositadas revistas da extinta Manchete, incluindo uma carta do seu fundador, o jornalista Adolpho Bloch (1908 – 1995); uma cópia do Plano Nacional de Desenvolvimento; um disco com o hino feito para o Sesquicentenário da Independência (composição de Miguel Gustavo) e fita da Rádio Tupi. Pelo que se pode apurar, não houve a participação do Museu Nacional/UFRJ nessa iniciativa, um fato no mínimo curioso. Seria até interessante uma pesquisa histórica sobre os motivos da ausência da instituição em evento tão significativo, já que o Museu Nacional/UFRJ foi escolhido como local da deposição dessa Cápsula.
Diferentemente do que ocorreu no passado, a organização da nova Cápsula coube totalmente à instituição. A ideia era aproveitar as comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil e apresentar para as gerações futuras um breve histórico das últimas cinco décadas, como, também, projetar as esperanças e anseios para o futuro. Naturalmente, a questão do incêndio ocorrido em 02 de setembro de 2018, seria um dos pontos mais marcantes a serem ressaltados.
A proposta original da Direção do Museu era a de conjugar a abertura da antiga Cápsula, que deveria ter ocorrida na semana das comemorações do Bicentenário da independência, juntamente com o depósito da nova. No entanto, a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, que fez um belo trabalho de reformulação do parque da Quinta da Boa Vista, incluindo o Jardim Terraço a frente do palácio, informou que trataria da abertura da Cápsula antiga. Por questões de agenda, não houve possibilidade em conciliar as duas iniciativas. Segundo informações da Prefeitura, o evento de abertura da Cápsula antiga deverá ocorrer no dia 7 de dezembro.
Tanto como a antiga, a nova Cápsula do Tempo foi confeccionada pelo Instituto Nacional de Tecnologia (INT) e é composta de aço inox, revestida de polipropileno, possuindo o tamanho de 55 cm X 61 cm X 43 cm. Foi elaborada uma estrutura de cimento , próxima à Cápsula de 1973, entre dois canteiros do Jardim Terraço, com uma tampa de concreto contendo uma placa com os seguintes dizeres:
2022-2072
Todos que por aqui passem,
protejam esta Cápsula – que guarda a
memória da ciência, da tecnologia
e da cultura de seu tempo e aponta
as expectativas para o futuro
da nação brasileira.
Houve uma intensa participação do corpo social do Museu e de instituições do país e do exterior. Sempre é importante frisar que, apesar de relevante do ponto de vista histórico, o conteúdo da Cápsula não possui valor monetário. A lista de itens é bastante extensa, compreendendo, sobretudo, documentos impressos, desde cartas até os relatórios institucionais dos últimos quatro anos. Entre os diversos itens, foram depositados na Cápsula textos sobre as duas ocasiões em que o Museu foi retratado no Carnaval – a primeira em 2008, pelo Arrastão de Cascadura, e a de 2018, pela Imperatriz Leopoldinense; livros retratando as atividades do resgate dos objetos que se encontravam no palácio após o incêndio de 2018 e uma breve história do Museu (em livro financiado pelo Banco Safra), além de uma publicação relativa à mostra “No Tempo dos Dinossauros“, de 1999, que foi uma das mais visitadas nessas últimas cinco décadas; documentos e relatórios da Academia Brasileira de Ciências, do Instituto Nacional de Tecnologia e do Fórum de Ciências e Cultura da UFRJ; e cartas da UNESCO, do BNDES, do Consul Geral da Alemanha no Rio de Janeiro, da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, do Museu de Ciências da Terra; e várias do corpo social da instituição, envolvendo técnicos e curadores.
Além disso foi incluída cópia do discurso proferido pelo Presidente de Portugal na Sessão Solene Comemorativa do Bicentenário da Independência do Brasil do Congresso Nacional realizada na Câmara dos Deputados; o discurso proferido pelo embaixador da Áustria se referindo ao Brasil no evento Global New Economy Forum; cartões de crianças da China; cartões postais diversos retratando assuntos ligados ao Museu; teste de COVID-19; e plantas e projeto preliminar que ainda se encontra em discussão de Arquitetura e Restauro do Paço de São Cristóvão.
Porém, o que pode ser considerado um diferencial e muito especial desta nova iniciativa, foi a participação de crianças, tanto do corpo social do Museu, como de colegas que atuam proximamente da instituição, além de uma turma de estudantes do Colégio Pedro II. Todos depositaram cartas e desenhos e participaram no fechamento da Cápsula, em um gesto simbólico, manuseando os parafusos. Antes do fechamento, foi incluído como último item o “Livro de Ouro”, contendo a assinatura de todos que estavam presentes – crianças, estudantes, técnicos, professores, seguranças, profissionais da mídia e os que atuaram na confecção do local onde a Cápsula foi depositada.
Foi um evento muito emotivo que deixou a todos os presentes muito felizes e esperançosos de um futuro melhor.
Agradeço a todos que participaram. O Museu Nacional/UFRJ continua mais vivo do que nunca!
Alexander W. A. Kellner
Diretor
Museu Nacional/UFRJ.