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Regina Dantas nos traz a nossa relevância histórica neste Bicentenário da Independência

O Paço de São Cristóvão carrega em si pura história. Neste momento da entrega da fachada principal completamente restaurada, você pode estar se perguntando o motivo dela ser amarela. Talvez você ainda desconheça em detalhes a nossa ligação com o Bicentenário da Independência e nossos motivos para celebrá-lo. Portanto, nos acompanhe neste conteúdo porque resumimos momentos históricos importantes com a ajuda da historiadora do Museu Nacional/UFRJ, Regina Dantas.

Regina Dantas e a estátua da Imperatriz Leopoldina com seus filhos, no Jardim Terraço. Foto: Gabriela Evangelista (MN/UFRJ)

Profunda conhecedora, ela estudou a história do Paço de São Cristóvão na sua dissertação no mestrado da UNIRIO, focando no século XIX. E as coleções da nossa instituição científica na sua tese de doutorado na UFRJ, se dedicando aos séculos XIX e XX. Além disso, pesquisa nossa história desde 1998, tendo ministrado disciplinas na graduação e pós-graduação da UFRJ.  E sempre promoveu para diferentes públicos esses conhecimentos, inclusive estando à frente dos dois momentos em que fomos tema de enredos no Carnaval carioca. Leia a seguir:

Leopoldina em 2 de setembro de 1822

A Imperatriz Leopoldina teve um papel importante na Independência do Brasil. “É comum que a história seja contada do ponto de vista colonial, em especial europeu e masculino. Tivemos uma Independência conservadora porque mantiveram a escravidão e também um pacto com grandes proprietários de terras, monocultores. Então, foi contra tudo isso que a Leopoldina agiu. Que força que essa mulher teve! Ela era uma naturalista, estudiosa das ciências naturais desde a infância, criada conhecendo a importância da política, muito bem preparada, sendo a nossa primeira regente. D. Pedro I não estava no Rio, então foi ela quem reuniu e presidiu o Conselho de Estado no Paço de São Cristóvão, em 2 de setembro de 1822. A partir da decisão dela com os demais participantes, convenceu seu marido a tornar o Brasil independente de Portugal. Portanto, Leopoldina está completamente ligada à Independência do Brasil. Só depois, em 7 de setembro, é que se deu todo o espetáculo com o mito da Independência, destacando D. Pedro I. Pela atuação de Leopoldina no Paço de São Cristóvão, comemoramos o Bicentenário da Independência em 2 de setembro.”, ressalta Regina Dantas.

O amarelo da fachada do Paço de São Cristóvão

Regina Dantas informa que no diário de Maria Graham tem observações sobre a cor das paredes externas do Paço de São Cristóvão. “Maria Graham cita a cor amarelo nas paredes, o que sugere que a residência imperial recebeu a cor que representava a casa da Imperatriz – Habsburgo-Lorena. Defendi a dissertação com essa informação em 2007 e, logo depois, foi feito um trabalho de prospecção das paredes do palácio e foi comprovada a presença do amarelo ocre. A partir da prospecção em outros prédios históricos, foi evidenciado que essa era a cor das edificações, que pertenceram ao Império”, explica a historiadora.

O Museu Nacional do Campo de Santana para o Paço de São Cristóvão

Cabe lembrar que o Museu Nacional foi criado por decreto de Dom João VI em junho de 1818, com o nome Museu Real, sendo localizado no Campo de Santana. Na época de D. Pedro II, ele já era chamado de Museu Nacional. Tudo o que o imperador recebia de valor para as ciências, ele doava um percentual significativo para o Museu Nacional e também deixava uma parte no Museu do Imperador, que ocupava parte de sua residência imperial no Paço de São Cristóvão.

Mas, afinal, como foi a transferência do Museu Nacional para cá? “O então diretor do Museu Nacional, Ladislau Netto, é uma personalidade importantíssima para essa vinda do Museu Nacional para o Paço de São Cristóvão. Um espaço que já era conhecido como relevante para os estudos das ciências, com seus moradores voltados para os estudos científicos, trazendo para o Brasil renomados naturalistas. Na minha dissertação, informo vários documentos desse momento, incluindo ofícios antigos dele, solicitando a ampliação do espaço do Museu Nacional para outros prédios no entorno do Centro do Rio, sendo todos negados. O tempo passou, quando acabou a monarquia, ocorreu o Leilão do Paço porque queriam liberar tudo. E Ladislau conseguiu que não fossem leiloados os acervos do museu que pertenceu à D. Pedro II: o Museu do Imperador. Foi realizada aqui a Primeira Assembleia Constituinte e, depois, o palácio estava aparentemente sem utilidade“, relata Regina.

Então, nos documentos, conhecemos que Ladislau fez uma solicitação diferente, pedindo a construção da via férrea para ter o acervo do Museu do Imperador incorporado ao do Museu Nacional este no Campo de Santana. “Ele conseguiu aprovação e esse processo de construção foi iniciado em fevereiro de 1892. Meses depois, já em maio, a via férrea fica pronta e há um documento com o Ladislau já se referindo a providências para o transporte ser feito ao contrário: do Campo de Santana para o Paço de São Cristóvão. Então, tudo isso se deu graças ao grande interesse do Ladislau pelo conteúdo do Museu do Imperador, fortalecendo o Museu Nacional e contando com esse amplo espaço para aprimorar e ampliar as coleções“, resume Regina, destacando a relevância histórica do Museu do Imperador para a história do Museu Nacional no Paço de São Cristóvão.

“Não houve nenhum questionamento sobre essa ação, porque esse espaço já era das ciências desde a vinda da família real, suas comitivas para as expedições científicas, a crescente construção de acervo de ciências naturais e antropológicas, incluindo as coleções bibliográficas”, pontua Regina. Ela destaca que hoje sabemos da importância de Leopoldina para a criação do Museu, do incentivo ao seu sogro, assim como sua coleção de mineralogia, exsicata de Botânica, coleções de civilizações antigas, entre outras importantes contribuições. A historiadora destaca o registro da assinatura de Leopoldina na aquisição da coleção egípcia da instituição nos apontamentos da Alfândega da cidade do Rio de Janeiro.

O Museu Nacional em dois enredos de Carnaval

Em 2017, Regina Dantas se aposentou, e veio a proposta de sermos enredo da Imperatriz Leopoldinense, escola de samba do Grupo A, com o desfile com o tema do Bicentenário do Museu Nacional/UFRJ. “É muita visibilidade internacional que se ganha ao participar de um desfile de Carnaval. Foi um momento mágico”, avalia Regina. Ela salienta que, por conta da falta de autorizações para os ensaios em Ramos, surgiu a oportunidade especial da realização dos ensaios técnicos na Quinta da Boa Vista. “Isso foi ótimo porque os moradores de Ramos tiveram a oportunidade de visitar pela primeira vez o Museu Nacional. E muitos deles nunca tinham ido a um museu. A Seção de Assistência ao Ensino promoveu atividades educativas durante essa visita mediada, com o Museu ficando aberto gratuitamente nestes finais de semana. As pessoas que estavam passeando pela Quinta também foram para lá, sendo muito emocionante. Aliás, foi nessa ocasião que eu entendi que a gente não consegue falar da instituição sem falar sobre a casa e seus personagens históricos, que tanto valorizavam as ciências”, explica Regina Dantas, evidenciando a importância da transdisciplinaridade para se conhecer o Museu Nacional/UFRJ, sua história e sua relação com a sociedade.

Regina Dantas com a fantasia de Leopoldina do desfile da Imperatriz Leopoldinense e a equipe do Bicentenário do Museu Nacional em junho de 2018

Ela explica que o diretor Alexander Kellner idealizou que se o Carnaval levou o Museu para a Avenida, era essencial levar também o Carnaval para a Academia. “Assim, foi definido trazer as fantasias para as nossas exposições e eu fui a curadora tendo uma equipe multidisciplinar para tal execução. Cada um dos protótipos ficou ao lado de cada objeto de destaque e isso foi um sucesso. Na inauguração, surgiu para o nosso corpo social e os convidados a bateria da escola tocando de surpresa, com o mestre sala e a porta-bandeira, fazendo suas evoluções, com todos nós cantando e dançando a coreografia. Foi uma grande e inesquecível festa”, relembra Regina.

Certamente, você se lembra desse importante momento. Mas já tínhamos sido enredo de outra escola de samba, há exatamente dez anos, em 2008, na Arrastão de Cascadura, na época no Grupo C. O desfile foi na Intendente Magalhães, no subúrbio do Rio de Janeiro. O tema foi o bicentenário da chegada de D. João no Brasil. A Regina tinha acabado de defender sua dissertação sobre a residência, incluindo a criação do Museu Real, ficou responsável por contar a história do Museu para a comunidade, contribuindo na escolha do samba enredo e sempre presente nos ensaios. Em relação ao desfile pela Imperatriz Leopoldinense, as pessoas do corpo social que participaram da palestra de apresentação dos detalhes para esse enredo são as mesmas que se ofereceram para também desfilar em 2018. Você estava entre elas?

Regina, a nossa Leopoldina nas festividades

Você se lembra dos momentos em que a Regina Dantas se vestia de Leopoldina em festividades especiais? A partir da fantasia de Leopoldina da escola de samba, a Regina passou a usá-la para contar ao público a história das mulheres para o Museu Nacional/UFRJ, tema de seus estudos de pós-doutorado. Dentre outros momentos marcantes, destacamos o “Projeto de Pijamas no Museu”, realizado em2009, sendo coordenado pelo Alex Kellner um evento onde as crianças passaram a noite no Museu participando de diversas atividades educativas e culturais, conhecendo as ações científicas da instituição nas suas diferentes áreas do conhecimento, contando com a participação de históricos moradores da antiga residência.

Regina interpretando Leopoldina no evento “De Pijama no Museu Nacional”

Regina já frequentava o Museu Nacional/UFRJ na sua infância, quando ela morava no bairro de Quintino Bocaiúva. Resumidamente, ela começou no Museu Nacional/UFRJ em 1994 pela Seção de Museologia (SEMU), quando trabalhava há 10 anos no Campus do Fundão/UFRJ. Entre 1998 e 2002, foi diretora-adjunta de Administração na gestão de Luiz Fernando Dias Duarte, quando iniciou seus estudos sobre o Paço de São Cristóvão e o Museu Nacional/UFRJ. Posteriormente, precisou retornar a trabalhar no Campus da Ilha do Fundão, além da Praia Vermelha. E, como grande conhecedora da nossa história, ela continuou a nos assessorar em diferentes ações da instituição e sempre contribui com a gente para conhecermos e difundirmos esses momentos históricos. Ressaltamos ainda, que foi a Regina que criou a sigla de nossa importante Seção de Memória e Arquivo (SEMEAR). Hoje, ela ressalta que vibra com a reconstrução do Paço de São Cristóvão e com toda a atuação da comunidade do Museu Nacional no fortalecimento do patrimônio histórico, científico e cultural brasileiro.

Emocionada com estas conquistas, Regina de mãos dadas com o diretor-adjunto Wagner Martins na coletiva de imprensa em 2/9/2022. Foto: Fábio Caffé (SGCOM/UFRJ)

 

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