É com muita satisfação que escrevo pela primeira vez no nosso novo boletim Harpia para falar um pouco a vocês dos avanços frente à gestão, digitalização, planejamento dos espaços de guarda e campanha de doação de nossos acervos. Com a criação da Comissão de Coleções (CC), que se iniciou em fevereiro de 2019, o Museu Nacional/UFRJ vem experimentando o diálogo interdisciplinar onde o tema central são os acervos. Conseguimos aproximar curadores, biólogos, historiadores, gerentes de coleção, técnicos especializados, educadores e museólogos em um lugar comum de discussão, troca de experiência e regramento para as nossas coleções.
Com o terrível incêndio de 02 de setembro sofremos o impacto não só da perda das coleções, mas também dos espaços de guarda e o trabalho para a reestruturação e reconstrução desse segmento do Museu Nacional tem sido um desafio sem precedentes para toda a nossa comunidade.
Passados três anos do incêndio conseguimos avançar. A tão sonhada Política de Coleções do MN, instrumento essencial para uma gestão institucional mais holística, está prestes a circular pela casa a fim de receber críticas e sugestões e, ao final, ser aprovada na congregação.
Na era digital e em tempos pandêmicos a informação mais do que nunca deve circular dentro e fora do Museu, e, para tal, a digitalização dos acervos se faz urgente! Precisamos ter acesso a informação através de bancos de dados e repositórios digitais que se comunicam entre si. Uma vez digitalizado, os conteúdos dos acervos oferecem oportunidades ímpares, como a integração ampla e efetiva em diferentes níveis institucionais, proporcionando visibilidade, difusão e intercâmbio informacional. Iniciativas com verba do Conselho Britânico em 2019/2020 reeditaram a retomada da digitalização dos acervos com financiamento de capacitação e promoção de eventos (ColDigi e CollPlan). Mais recentemente o edital FAPERJ No 08/2020 – ColBio aprovou quatro projetos do Museu Nacional, sendo três voltados para a digitalização, a divulgação e a estrutura de TI do MN.
Contudo, como a heterogeneidade dos acervos é grande, precisamos entender a demanda caso a caso para investimentos futuros. Nesse sentido foi realizado um estudo da maturidade digital dos acervos sob a coordenação da museóloga Luciana Martins (Empresa Percebe) – informação essa que foi acessada através de formulários e entrevistas com os curadores e técnicos e, em breve, será compartilhada com a comunidade.
E como o ambiente digital é muitas vezes inovador, a mais nova parceria do MN nesse sentido foi realizada com a matemática Profa. Asla Medeiros (Fundação Getúlio Vargas) que orientou o aluno de mestrado Franklin Oliveira usando dados de coleções da zoologia (Crustacea, Polychaeta e Herpetologia) do Museu Nacional. O trabalho se propôs a aplicar de forma inédita os princípios e técnicas de visualização da informação com base nos bancos de dados de coleções científicas biológicas, ao fornecer um conjunto de representações visuais cuja finalidade primária é a de promover a verificação da qualidade dos metadados associados pelos especialistas.
Por fim, e não menos importante, precisamos e muito dos acervos físicos para recompor nossas exposições e coleções científicas. Nesse sentido, foi lançado no dia 02 de setembro a Campanha Recompõe que é um chamado à participação de museus, instituições de pesquisa, diferentes coletividades representativas da nossa sociedade e colecionadores de todo o mundo para doarem peças originais ao Museu Nacional. É um momento de sensibilização de todos sobre a importância da recomposição dos nossos acervos e que remete à valorização do patrimônio cultural, biológico e geológico.
Para isso, precisamos estar preparados para receber e salvaguardar todo esse acervo seguindo as normas de segurança, climatização, compartimentalização de acordo com a tipologia do acervo etc. Anexo aos espaços de guarda estamos prevendo áreas de manobra que vão dar suporte aos recebimento, triagem e manipulação dos acervos de forma mais ampla. A partir das demandas das equipes curatoriais a arquiteta Sâmara Antero desenvolveu três pré-projetos: Laboratório de Manuseio de Meio Líquido; Laboratório de Manuseio de Meio Seco e Prédio de Taxidemia – todos com previsão de construção no Campus de Pesquisa e Ensino do MN/UFRJ.
Sugiro a leitura do artigo publicado recentemente como resultado da parceria com a professora Asla Medeiros e Sá e o aluno dela de mestrado da FGV, Franklin Oliveira: Visualização de Informação como Ferramenta de Apoio à Curadoria de Dados em Coleções Biológicas.
O olhar institucional para os acervos é um novo paradigma e precisamos estar cada vez mais unidos em modelos ótimos de gestão, digitalização e extroversão das nossas coleções e que vão dialogar com a sociedade como um todo.
Um forte abraço e até breve,
Cristiana Serejo
Vice-diretora do Museu Nacional/UFRJ.
Diretora Adjunta de Coleções.