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Sergio Maia Vaz, o técnico-pesquisador da Seção de Mamíferos

Sergio Maia Vaz

Na minha infância eu já visitava o Museu Nacional/UFRJ, ao mesmo tempo que adorava os filmes que tinham o cenário na selva, como o Tarzan. Sempre gostei dessa temática. Em 1974, tive a oportunidade de conhecer o Dr. José Cândido de Melo Carvalho, que além de zoólogo, tinha interesse em assuntos voltados à conservação da natureza. Ainda me lembro do dia em que fui anunciado pelo porteiro, o Sr. Geraldo Marinho, que usava o fardamento com abotoaduras douradas. Guardo, com saudade, os nomes dos antigos mestres que conheci, entre eles, João Moojen, Helmut Sick, Luís Emygdio de Melo Filho, Marília de Melo e Alvim e vários outros. Também ficou na lembrança vários auxiliares e técnicos, entre eles os senhores Freitas, que era um dos porteiros, a Arimatéia da biblioteca, o pedreiro José Adolfo, o pintor Pedro, os auxiliares de portaria Geraldo Arueira e Eilaer Ferreira, e o laboratorista Esmeraldino Augusto de Souza. Quantas histórias interessantes sobre o passado do Museu eu ouvi dessas pessoas! Vou resumir minhas melhores lembranças destes 40 anos e 4 meses e relatá-las aqui.

Tive a oportunidade de participar de várias palestras, congressos e aprender muita coisa a partir da leitura de extensa bibliografia. Li, com muitolivro notas de viagem ao rio negro interesse, um trabalho do Dr. José Cândido, “Notas de viagem ao rio Negro”, publicado em 1952. Ele foi um inspirador para que eu passasse a sonhar em realizar uma viagem nos moldes dos antigos naturalistas na Amazônia. Um outro artigo, publicado em 1955, do meu saudoso amigo, retratava uma excursão ao rio Paru de Leste, localizado na margem esquerda do rio Amazonas, no estado do Pará, que ele realizou entre julho e agosto de 1952. Sessenta e um anos depois, tive a chance de refazer parte do roteiro original, conhecendo a notável cachoeira do Panama, navegar em pequena canoa no lago do Mapaú, conviver com castanheiros, conversar com antigos balateiros e realizar observações sobre a fauna.

Aqui no Museu, tive a oportunidade de trazer o meu filho quando ele era pequeno, para conhecer os mesmos bichos taxidermizados que eu apreciara na minha infância. Ele também passou a gostar de assuntos ligados à natureza e, em algumas ocasiões, me acompanhava até o aeroporto quando eu ia para os trabalhos de campo. Lembro como era emocionante compartilhar as aventuras vividas, relatando sobre os lugares que eu ficava sem acesso à comunicação e dormindo em redes com cortinado para me proteger dos insetos à noite. Guardo boas lembranças da convivência com as comunidades muito pobres financeiramente, mas, ao mesmo tempo, muito sábias cuidando da melhor forma da riqueza da biodiversidade a sua volta. Uma viagem muito interessante foi ao Acre, em setembro de 2011, quando foi possível visitar a casa do líder seringueiro Chico Mendes, em Xapuri.  Percorri também, ao longo desses anos, trechos do rio Tapajós, entre 1991 e 2015. A última grande excursão foi à Serra do Cachimbo, em outubro de 2016. Sempre gostei da simplicidade e me dei bem ao valorizar as sabedorias diversas que tive contato.

Minha vida foi diferente porque consegui frequentar o Museu Nacional/UFRJ. Sempre fui bom aluno em biologia, geografia, história e português, gostando da vida ao ar livre, numa vida mais solta.

Em 1977, vim me oferecer para trabalhar como voluntário, na Seção de Mamíferos. Passei depois a estagiário e, em 1981, fui contratado pela Fundação José Bonifácio a pedido da direção do Museu, para cuidar dos espécimes conservados.

Não tenho interesse em me aposentar, inclusive torço que a idade da compulsória seja elevada para 80 anos. Gosto do meu trabalho, independente de questões salariais ou políticas. Atualmente, venho toda terça e quinta-feira, tomando todos os cuidados de segurança com a Covid-19.

Vejo no futuro do Museu uma grande perspectiva, porque com os novos prédios, o meu setor, que já tinha sido transferido em 1994 para o Horto Botânico, pode ser ampliado com esse acervo riquíssimo que temos.

 

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