Proporcionando uma experiência abrangente, o curso de extensão “Conhecendo o Museu Nacional/UFRJ” chega a sua terceira edição com novidades. Além dos encontros remotos, estão sendo oferecidos dois encontros presenciais nos nossos campi. A seleção buscou contemplar uma diversidade significativa de pessoas de todo o país, tendo entre 16 e 67 anos.
Você já o conhece? Ele é realizado anualmente desde 2021. A seguir, te levamos aos depoimentos de alguns cursistas e integrantes da equipe, e também aos detalhes sobre o funcionamento transmitidos por Valéria Silva e Fernanda de Souza Lima, da Coordenação de Extensão.
Coordenação
Valéria Pereira Silva, da Coordenação de Extensão
“Quando iniciamos o curso em 2021 nós tínhamos muitas expectativas, mas foi muito significativo perceber o interesse de pessoas de todo o Brasil em conhecer o Museu sob a perspectiva que estávamos propondo. E o que até hoje me deixa impressionada é a quantidade de inscrições que recebemos a cada edição. No primeiro ano tivemos 1137 pessoas inscritas, e entendemos que isso ocorreu muito em razão da procura por atividades remotas naquele momento da pandemia. Mas, pra minha surpresa, apesar do volume menor, em 2022 recebemos 638 inscrições e, neste ano de 2023, foram 705 pessoas. E o que me deixa ainda mais feliz é também alcançar pessoas de todos os estados do país, sem exceção. Por um lado, eu não sei trabalhar sozinha, apesar da Coordenação de Extensão ter uma equipe super reduzida, as atividades que fazemos são sempre em conjunto com outras pessoas e setores do Museu. O curso sintetiza esse trabalho de uma maneira muito singular pra mim, porque a troca que conseguimos estabelecer entre as diferentes equipes do Museu Nacional e os cursistas que participam é uma ótima representação da interação dialógica que esperamos da extensão universitária. E isso se materializa muito na produção final que os cursistas precisam realizar em grupos, que parte dos debates realizados durante as aulas com o corpo social do Museu, para uma construção coletiva a partir das realidades e experiências compartilhadas em cada grupo coletivamente. É essa possibilidade de troca e construção coletiva do conhecimento que me encanta na extensão universitária e que eu fico muito feliz de poder fazer ao promover esse curso”.
Fernanda Lima, da Coordenação de Extensão
“Essa é a primeira vez que tenho a oportunidade de participar do curso de extensão ‘Conhecendo o Museu Nacional’. Nas últimas edições estive ausente, em virtude de afastamento para conclusão da pesquisa de doutorado. Tem sido uma experiência única participar de todas as etapas de desenvolvimento do curso, o contato com diferentes profissionais do Museu Nacional, a troca e diálogo com o público participante, a construção coletiva de propostas, intervenções e estratégias de comunicação, interação com os nossos extensionistas da equipe, sempre muito motivados e engajados nas atividades. Eu vejo o curso ‘Conhecendo’ como um espaço formativo para todos nós, estudantes, coordenação, cursistas e palestrantes. A possibilidade de compartilhamento de saberes torna as aulas muito ricas, nas quais se cria um ambiente acolhedor para que o participante exponha suas concepções e diferentes leituras sobre o mundo, suas expectativas em relação à reconstrução do Museu Nacional, sendo convocado a trazer demandas e a participar efetivamente desse processo que considera as diferentes vozes, formas de interpretação e relação com o patrimônio. O que mais me marcou no curso foi a interlocução com pessoas de diferentes regiões e lugares do Brasil, e o alcance social do curso é algo que me encanta e me traz muito orgulho em fazer parte disso. Nos motiva saber que esse público heterogêneo, de Goiás, Santa Catarina, Pernambuco, Amazonas, Pará, São Paulo, dentre tantos outros lugares, percebe no Museu Nacional um lugar com legitimidade científica, que ocupa os imaginários, atribuindo-lhe sentido simbólico e afetivo. Buscamos com o curso também mostrar às pessoas esse museu dinâmico, vivo, que nunca parou suas atividades depois do incêndio e nem mesmo com a pandemia, um museu feito de muitos trabalhadores e trabalhadoras, que atuam incansavelmente para sua reconstrução todos os dias. Tentamos mostrar o Museu nas suas mais diversas facetas, seus bastidores, o ensino, a pesquisa, a extensão, a conservação, as exposições, e cada pedacinho que foi a mola propulsora que fez com que ele nunca parasse de funcionar. Me fascina conhecer pessoas e através do meu conhecimento e da minha prática como educadora poder contribuir de alguma forma para que essas pessoas conheçam um pouco dessa instituição que tanto amamos e que faz parte da nossa vida de uma maneira tão especial. Sigo na expectativa do próximo encontro. A visita presencial às obras do Paço de São Cristóvão foi um momento muito esperado por todos! Espero que as pessoas carreguem consigo conhecimentos novos e as mais belas memórias desse lugar, desses momentos de encontros, das trocas, das conversas e das experiências de afeto que estamos vivenciando. Que carreguem a alegria do encontro com outro e a certeza de ter feito parte desse Museu que vive”.
Equipe
Adriana Facina, professora do PPGAS
“O curso ‘Conhecendo o Museu Nacional’ visa apresentar a instituição e as pessoas que a fazem a um público amplo, não especializado, porém curioso. O grande desafio é traduzirmos o conhecimento acadêmico que produzimos aqui numa linguagem democrática e acessível. Paulo Freire defendia que a extensão deveria se chamar comunicação e concordo com ele. Comunicar é dialogar, trocar ideias e permitir que novas questões nos cheguem aos ouvidos, corações e mentes. Quando apresentamos nossas pesquisas desse modo conversado, criamos novos conhecimentos e nos reinventamos como cientistas. Gosto de ver olhos brilhando de curiosidade e sonho. O que mais desejo é que eu possa despertar nesses jovens o sonho de fazer ciência, assim como eles alimentam em mim o amor pelo trabalho com pesquisa”.
Crenivaldo Veloso, técnico do Setor de Etnologia e Etnografia
“É muito gratificante compor a equipe do curso ‘Conhecendo o Museu Nacional’. Eu participo do módulo de abertura, conversando sobre a multiplicidade e a complexidade das histórias da instituição. A abordagem privilegia a história social das ciências, com destaque aos desafios dos tempos presentes. O público tem a oportunidade de compreender que o fazer científico no Museu Nacional não ficou cristalizado no passado, atualizando-se ao longo do tempo. Sobretudo, no que diz respeito aos compromissos com produções pautadas na ética das relações, em atitudes antirracistas, inclusivas e democráticas. Isso é extremamente importante, considerando a pluralidade e a diversidade sociocultural do Brasil, representado no perfil dos cursistas, composto por pessoas de todas as regiões, de diferentes gerações, graus de escolaridade, gêneros, pertencimentos étnico-raciais e religiosidades. Para mim, participar do curso é uma forma de vivenciar, na escala da extensão, o “nacional” que nomeia este Museu”.
Marcelo Ribeiro de Britto, professor do Departamento de Vertebrados, no Setor de Ictiologia
“Essa é a segunda vez que tenho a oportunidade de participar. Uma das características mais marcantes é a diversidade de pessoas: diferentes gêneros, faixas etárias, experiências pessoais e profissionais. A troca com os participantes me dá a sensação de trazer para essas pessoas um pouco sobre os programas de pós-graduação da UFRJ sediados no Museu Nacional, sendo o tema que fui chamado para apresentar, e lidar com as diferentes percepções de cada pessoa sobre esse assunto. É importante o papel de instituições como o Museu Nacional na formação de pessoas. Levo para a minha vida as diferentes percepções de cada pessoa que participa e, assim, posso refletir sobre o quanto podemos ser/estar consoantes na dinâmica da instituição”.
Mayra Aguiar, extensionista da equipe, estudante de graduação da UFRJ do curso de Biofísica
“A primeira visita presencial e o contato direto com os cursistas em 2022 foi algo inesquecível, realmente vai ser difícil de esquecer tamanha emoção e gratidão por ter feito parte da organização desse curso. Como aspirante a pesquisadora, a sensação que fica é de dever cumprido por ter alcançado centenas de pessoas por meio do curso ‘Conhecendo o MN’. Desejo que todo o conhecimento adquirido até aqui seja levado adiante e, mais do que isso, desejo que eles sejam reflexo de resistência, persistência e que mantenham a capacidade de ultrapassar os percalços da ciência e história brasileira tanto quanto o Museu Nacional. Daqui eu levo a vontade de alcançar outras mais cem vidas“.
Depoimento de cursistas
Etelvino Góes, Santo Amaro da Purificação, Bahia
“Sou formado em Museologia pela Universidade Federal do Recôncavo Baiano, Cachoeira Bahia, e participei da segunda edição desse curso de extensão. E a memória histórica sempre foi meu forte e os museus têm um carregado de significados importantes desde minha vida acadêmica. Rever isso, de forma distante, me impulsinou a nova descoberta de um museu fora da Bahia. Um Museu que é visitado por muitos e que tem um grande legado histórico e cultural. O Museu Nacional nos apresenta grandes obras e legado da história brasileira. Apesar de ser no Rio de Janeiro, ele nos apresenta um acervo virtual riquíssimo e ao mesmo tempo a possibilidade de ter contatos com pessoas de outras áreas e até mesmo da área museológica. Vivenciar novas experiências, mesmo virtual, nos traz grandes descobertas. Gostei da dinâmica das aulas, dos colaboradores e professores, e conhecer a vida desta instituição tão importante para o Brasil, dentre os assuntos o mod. II pesquisa e educação. Por que a educação museal é o único caminho para preservação da memória exposta. Quando estava no curso, sempre pensei em me especializar na educação museal, naquele momento tinha em pensamento que a educação é, e sempre será o caminho para preservação do nosso patrimônio histórico e cultural. Os museus precisam vivenciar esta nova museologia, onde os museus são peças chave para a pesquisa, para a educação onde seu principal objetivo é a preservação da memória histórica“.
Ingrid Marques Soares Ferreira
“Tenho 21 anos e sou do Rio de Janeiro. Descobri o curso pelo Instagram através de uma professora que tive no ensino médio. Logo assim que vi, tive interesse pelo curso por estar estudando a relevância da preservação dos fósseis para compreensão da história evolutiva das espécies. Sou aluna de ciências biológicas e estou no 1° período. Sou da 3ª edição do curso de extensão. O conteúdo do curso é bem rico. Além de conhecer a história do Museu Nacional, estrutura e suas divisões, programas de pós graduação, um pouco desse acervo gigantesco e outras coisas, teve uma palavra que mexeu comigo, patrimônio. É simples, mas acredito que muitos compartilham a visão que eu tinha, de se sentir tão longe de uma história que é nossa, que nos pertence. De não conhecer as riquezas da nossa diversidade biológica, riqueza essa que atrai os olhares do mundo. Como bem observou Gonçalves Dias em seu poema, Canção do Exílio: “Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá, as aves, que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, nossas várzeas têm mais flores, nossos bosques têm mais vida, nossa vida mais amores.”
Raio-X do ‘Conhecendo o Museu Nacional/UFRJ’
Módulos alinhados à nova definição de museus
Os cinco módulos do curso de extensão foram planejados a partir da nova definição de museus, buscando debater sobre aspectos do Museu Nacional/UFRJ relacionados à pesquisa, à educação, a relação com a sociedade e a preservação e conservação. Estão divididos em 10 encontros remotos, onde são abordados: a história do Museu Nacional, sua estrutura acadêmica, os programas de pós-graduação, a pesquisa e o ensino do ponto de vista dos estudantes de pós-graduação, a educação museal e as atividades educativas, a pesquisa científica, a estrutura museal, a política de acervo, os preceitos da restauração de acervos musealizados, os métodos de gestão de coleções, as etapas de organização do acervo resgatado, os acervos bibliográficos, as noções gerais de Patrimônio Cultural Material e Imaterial, a produção de exposições museológicas, a comunicação, a extensão universitária e as perspectivas futuras. Para isso, convidam servidores professores e técnico-administrativos, além de estudantes de pós-graduação.
Os encontros
Além dos encontros remotos, nesta terceira edição foram programados dois encontros presenciais, com participação opcional dos cursistas, não contando como parte da carga horária necessária para obter o certificado de participação. As coordenadoras explicam que optaram por isso porque sabem que existe uma dificuldade real de deslocamento, seja por questões financeiras, pessoais ou profissionais, que impedem que todos os cursistas participem. O primeiro encontro aconteceu no dia 3 de junho com uma visita ao Horto Botânico, no qual visitaram o Herbário, no Departamento de Botânica, a Ictiologia e a Coleção Didática da SAE, no Departamento de Vertebrados, e também conheceram o Campus de Ensino e Pesquisa Museu Nacional e o trabalho da equipe da Museologia na montagem de futura exposição. Outro encontro está programado.
Ao longo do curso, a turma ficou dividida em cinco grupos, sob a orientação de cinco extensionistas da equipe, supervisionados pela coordenação do curso. Essa divisão em grupos tem como objetivo possibilitar a troca entre cursistas para a produção de um trabalho final, em formato livre, buscando sintetizar a apreensão que tiveram no curso em relação ao Museu Nacional. Mas também podendo se relacionar com outras questões que o grupo considere relevante. Sempre com a orientação de uma pessoa da equipe. O produto final do grupo deve ser apresentado na última aula e os organizadores relatam que surgem ótimas surpresas a cada edição. Como não há um formato específico, nas edições anteriores foram produzidos vídeos, podcasts, cordel, poemas, colagens, revistas, página em redes sociais, entre outros.
Por fim, a coordenação busca promover uma avaliação do curso por todas as pessoas que participam, sejam cursistas, palestrantes e mesmo a própria equipe, como forma de identificar o que vem ou não dando certo para que possam adequar da melhor maneira os próximos.
Seleção baseada na diversidade
Como a cada ano temos centenas de pessoas interessadas, é utilizado um modelo de inscrição bem extenso e, a partir disso, é possível fazer uma seleção que alcança uma diversidade significativa de pessoas, considerando questões étnico-raciais, de gênero, regionais, uma ampla faixa etária e buscando atender também pessoas com deficiência e neurodiversas. As servidoras da Coordenação de Extensão explicam que conseguiram isso a partir de uma seleção que considera todas estas questões da forma mais igualitária ao nosso alcance. Assim, nesta terceira edição, o curso inclui mulheres e homens cis e trans, pessoas não-binárias, negras, brancas, indígenas e amarelas, com baixa visão, mobilidade reduzida, surdez e neurodiversas, do ensino fundamental ao pós-doutorado, com diferentes formações e locais de trabalho, com idade entre 16 e 67 anos.
Para dar conta de algumas especificidades, a equipe buscou o contato com cada cursista para identificar possíveis necessidades. Na primeira edição, por exemplo, contaram com intérpretes de Libras para atender uma cursista com deficiência auditiva, e também buscaram adequar a forma de apresentação para melhor compreensão do conteúdo por toda a turma.
Desde 2021, receberam 2455 inscrições, para um total de 50 vagas anuais, que já é um volume muito grande de pessoas, mas que a equipe sempre amplia para 80 vagas. As servidoras da Coordenação de Extensão informam que, infelizmente, não conseguem ampliar ainda mais as vagas sob o risco de não conseguir alcançar a principal proposta do curso, que é manter um diálogo entre palestrantes, cursistas e a equipe de coordenação e extensionistas. Ainda assim, nesta edição de 2023, os comunicados de inscrições conseguiram alcançar pessoas de todos os estados do Brasil, graças à parceria com diferentes instituições como a Pró-Reitoria de Interiorização da Universidade Estadual do Amazonas (PROINT), Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (PREC), Museu de História Natural do Araguaia (MuHNA), Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (UFAPE) e Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Participação essencial de graduandos
A participação de estudantes de graduação extensionistas se dá como membros da equipe, e possuem papel fundamental no planejamento e execução do curso. Eles atuam no contato com palestrantes, na mediação e apoio técnico durante os encontros e também na orientação de cursistas para produção do trabalho final. De acordo com as servidoras da Coordenação de Extensão, Valéria Silva e Fernanda Lima, sem esses estudantes o curso não teria a mesma qualidade, porque existe todo um planejamento realizado ao longo das semanas e de execução em cada aula, que ficam sob suas responsabilidades. Dessa maneira, elas acreditam poder contribuir com a formação profissional desses estudantes de graduação, possibilitando que tenham contato com diferentes realidades, com as temáticas abordadas no curso e também com a experiência de gerir um curso de extensão.