Por Alexander W. A. Kellner, diretor do Museu Nacional/UFRJ

Foto: Diogo Vasconcellos (MN/UFRJ)
Acabamos de comemorar os 207 anos do Museu Nacional/UFRJ. Como muitos sabem, a nossa proposta original havia sido um pouco diferente… O planejamento previa uma coletiva de imprensa na manhã de 6 de junho, data de aniversário do Museu, com a abertura da iniciativa denominada “Entre Gigantes: Uma Experiência no Museu Nacional!“. Essa ação envolvia, entre outras, a apresentação, pela primeira vez, da montagem em cima da escadaria monumental do nosso cachalote da espécie Physeter macrocephalus — sendo um esqueleto com 15,3 metros de comprimento. Originalmente, com tecido mole, se tratava de um exemplar com 15,7 metros. É o mesmo espécime que foi montado na Cidade das Artes, em 6 de junho de 2022, para a comemoração do bicentenário da Independência do Brasil. Nesta ação, também seria possível rever de perto o icônico meteorito Bendegó e, ainda, uma mostra especialmente desenvolvida para apresentar um pouco sobre como está sendo realizado o cuidadoso trabalho de reconstrução do histórico Paço de São Cristóvão, com suas especificidades por se tratar um prédio tombado. Seria a primeira vez que o público poderia entrar no palácio — sem capacete e botas de segurança, desde 02 de setembro de 2018!
No entanto, quando autoridades se deram conta não apenas do tamanho do evento — sim, a bela montagem do cachalote, como esse cetáceo é chamado popularmente —, e, sobretudo, do simbolismo do que estava sendo planejado, houve o pedido para adiar a inauguração dessa experiência. Foi um pouco frustrante o cancelamento em cima da hora, sobretudo depois da ampla divulgação que foi dada, mas, venhamos e convenhamos: a solicitação é bastante justa!
Cabe destacar que a reconstrução do Museu Nacional/UFRJ é financiada graças à ajuda indispensável — e muito bem-vinda — de muitos atores sociais, que precisam ajustar agendas. É importante destacar: a Direção do Museu é muito grata aos suportes recebidos e estamos em compasso de espera para uma nova data para a abertura dessa experiência de encantamento, que está muito bonita e foi desenvolvida com todo o cuidado para compartilhar com a sociedade as conquistas importantes da reconstrução do nosso museu de história natural e antropologia.
Pessoalmente, espero que não demore muito já que não gostaríamos de privar as crianças de visitar essa experiência temporária no Museu durante as férias escolares de julho! Uma oportunidade para as que moram no Estado do Rio de Janeiro e também para as que vêm visitar nossa cidade nessa época, como turistas. Sem falar no custo de manter essa ação parada, com equipamentos alugados, entre outros detalhes muito importantes.
Por outro lado, mantivemos as demais ações programadas. O início (ou kick off) foi o lançamento da Política de Gerenciamento de Coleções do Museu Nacional, na tarde do dia 3 de junho no auditório da Biblioteca Central. Confesso que foi com muita emoção por dois motivos. O primeiro se deve ao fato de que houve a sugestão, em cima da hora, de uma realocação desse evento de lançamento (algo inviável que levaria ao seu cancelamento), o que foi evitado por um posicionamento firme da Direção do Museu. E o segundo motivo: que o evento foi muito bom, enchendo a todos presentes com muito orgulho de lançar a primeira versão da Política de Gerenciamento de Coleções do Museu Nacional! Em um auditório cheio, com muitas participações. Sim, ainda sem ar-condicionado, já que ainda estamos muito longe de concluir as obras de reforma da Biblioteca, conforme fomos informados pela Associação Amigos do Museu Nacional (SAMN). Nada que diminuísse o impacto positivo do evento, já não era sem tempo de o Museu ter a sua política de coleções… Sabemos a enorme influência que esse trabalho, coordenado pela Diretora de Coleções, a professora Cristiana Serejo, terá na área museológica do nosso país!
Ainda no âmbito do aniversário, foi realizado o segundo Diálogos da Reconstrução, um evento envolvendo diversos representantes dos povos originários que discutiram a importância da participação ativa deles nas discussões sobre os acervos que desejamos ver nas futuras exposições da instituição. É muito especial esse trabalho de atuar com quem tem o conhecimento do significado de objetos a serem incorporados às coleções do Museu Nacional.
Uma outra ação, bem bacana, foi direcionada às redes sociais do Museu, onde foram publicadas dezenas de vídeos, desejando um feliz aniversário para o Museu! Pessoas ligadas a diferentes aspectos da cultura, como o grande Milton Cunha, que atua no Carnaval e é pesquisador da UFRJ há anos; o Paulinho Moska, cantor e compositor; o amigo Gutje, que é roqueiro e baterista da banda Plebe Rude; o luthier Davi Lopes, que confeccionou instrumentos musicais com a madeira recuperada do incêndio; o jornalista Anselmo Gois, que sempre divulga as pautas da instituição e muitos mais! Também tivemos pessoas que trabalharam no projeto de reconstrução do Museu, como o Fabrício Brollo do BNDES, que mandou um lindo recado ao lado do seu filho Bernardo; pessoas atuantes no PMNV, como Hugo Barretto do Instituto Cultural Vale e Marlova Noleto, diretora da UNESCO no Brasil. Não tem como deixar de registrar a participação da querida Frances Reynolds, que tem apoiado a instituição na questão da recomposição dos acervos; do Joper Padrão, representando o Rotary Club; do querido Celso Pansera, presidente da Finep que sempre esteve apoiando o Museu bem antes do incêndio; do presidente da Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi; da presidente da Academia Brasileira de Ciências, Helena Nader; da presidente da Capes, a professora Denise Pires de Carvalho; e de tantos outros! É também importante destacar os depoimentos do reitor e da vice-reitora da UFRJ, o professor Roberto Medronho e a professora Cassia Turci, mostrando todo apoio ao Museu por parte da Universidade. Sem contar com personalidades de outros países, a começar com Jan Freigang, cônsul-geral da Alemanha no Rio de Janeiro; Alexandre Pais, presidente do Conselho de Administração de Museus e Monumentos de Portugal; e a querida amiga Marta Lourenço, diretora do Museu Nacional de História Natural e Ciência da Universidade de Lisboa, que tem coordenado as bolsas de doutorado financiadas por Portugal destinadas a pesquisas cujos resultados auxiliarão na recomposição das coleções do Museu Nacional. Por último, é fundamental destacar os inúmeros apoios que recebemos de políticos, como a senadora Teresa Leitão, presidenta da Comissão de Educação e Cultura do Senado Federal; dos deputados e deputadas federais, como Jandira Feghali e Chico Alencar, do Rio de Janeiro, e Sidney Leite, do Amazonas. Ainda participaram pesquisadores, estudantes e técnicos administrativos em educação da própria instituição! Esse carinho que recebemos nos dá forças para prosseguir nessa árdua tarefa que é a de devolver o Museu o quanto antes para a sociedade.

Agora o evento no domingo, dia 8 de junho, na Alameda das Sapucaias, na Quinta da Boa Vista… Foi emocionante e superou a todas as expectativas com um público recorde ultrapassando os 6 mil visitantes. Conforme anunciamos, as atrações conquistaram as pessoas e temos certeza de que o esforço de todos — sobretudo do corpo social do Museu, que esteve presente na Tenda Científica e demais atividades, e os que prestigiaram o evento com a sua presença e trouxeram amigos e familiares: valeu a pena! Uma multidão de pessoas ávidas a ter contato com nosso acervo e trocar conhecimentos com nossos pesquisadores, sendo cada pessoa bem recebida com todo carinho, com cada contato sendo único.
Um momento especial das celebrações dos 207 anos também foi a entrega oficial, no dia 10 de junho, da rota de acessibilidade do Horto Botânico, por meio de projeto de revitalização liderado pela professora Vera Huszar. Ele inclui a realização de visitas teatralizadas com escolas da região, apresentando as obras raras e destaques da vegetação.
Esse aniversário também é motivo para comemorar várias conquistas e entregas. Acredito que a principal é o nosso Campus de Pesquisa e Ensino Museu Nacional/UFRJ, um terreno de aproximadamente 43 mil m², adjacente à Quinta da Boa Vista. Vamos ser sinceros: alguém consegue imaginar a reconstrução do Museu, particularmente a parte acadêmica, sem esse terreno e os investimentos nele feitos? Depois de muito tempo, finalmente temos os módulos emergenciais dos departamentos de Invertebrados, Entomologia e Geologia e Paleontologia entregues; o centro de visitação Estação Museu Nacional em funcionamento recebendo visitas escolares e de outros grupos com a exposição “Um Museu de Descobertas”; o Laboratório Central de Conservação e Restauração atuando nas doações de objetos e outros que serão utilizados nas novas exposições; outros locais de guarda de acervos — incluindo os resgatados; e a construção de uma edificação permanente para a laboratórios de manuseio de coleções líquidas. Também o módulo provisório da Administração e uma área de lazer idealizada com muito carinho pela vice-diretora, professora Andrea Costa, e gerenciado com muita competência pelo diretor Administrativo, Wagner Martins.
Não somente isso. Também gostaria de comunicar que temos avançado no regimento, como deve ser de conhecimento geral! A esperança é que tenhamos a possibilidade concluir uma minuta ainda durante o mês de agosto, que terá que ser avaliada pelas instâncias superiores da UFRJ. Cumpre agradecer ao Corpo Social da instituição pela compreensão e participação nessa complexa tarefa, como também a Comissão do Regimento e da Relatoria pelo empenho! Confesso que tenho esperanças de, após mais de cinco décadas, o Museu finalmente venha a ter o seu regimento atualizado. Posteriormente, teremos que enfrentar o Plano Museológico — uma outra longa e essencial conversa…
Por outro lado, nem tudo são flores… O grande desafio hoje é finalizar a Biblioteca Central, algo que tem que ser concluído o quanto antes. Não dá mais para postergar essa entrega que tem causado danos à imagem do Museu, inclusive na esfera governamental. Ainda temos muitos servidores sem local de trabalho, em especial os integrantes do Departamento de Antropologia que tem, inclusive, um dos mais importantes programas de pós-graduação da UFRJ: o Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social! Não é possível que esses colegas continuem sem local de trabalho e teremos que atuar para resolver essa questão o quanto antes.
Porém, os desafios não se limitam a esse ponto… Também nos preocupa a questão das obras do Paço de São Cristóvão. Sim, temos avançado de uma forma tímida. Conforme explicitado na imprensa e na Audiência Pública da Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados, em Brasília, em 05/06/2024 (Assista), havia a necessidade da entrada de recursos expressivos no final do ano passado e nos primeiros meses de 2025. O fato é que, até agora, apesar de promessas e muito trabalho, nada entrou. É uma situação que tira o sono de qualquer gestor… A promessa de reabertura parcial do Museu Nacional no ano que vem tem que ser mantida, mesmo que reduzida em seu escopo.
Para finalizar, gostaria de aproveitar esse momento da comemoração de mais um aniversário do Museu para destacar que as conquistas realizadas se devem a uma equipe motivada e competente! Ninguém consegue fazer nada sozinho, e se não fossem esses servidores que trabalham todos os dias em prol da nossa instituição, nada teria sido possível! Muito obrigado a todos! Porém… Temos que ter o entendimento que ainda falta muito a fazer…
Palavra da Direção, artigo de opinião publicado no Harpia Nº 33, junho de 2025.